Mais de 5 bilhões de visualizações por ano
Cerca de um século atrás, assim que os filmes nos cinemas terminavam, era exibida uma promo, um trecho de cenas com dizeres e informações sobre outro filme. Um tempo depois, passou a ser exibido antes dos filmes começarem. E assim só aumentaram as exibições dos chamados trailers, que não são mais exclusividades dos cinemas. Se olharmos os canais de trailers mais conhecidos do YouTube estima-se uma marca de mais de 5 bilhões de views por ano.
Atualmente, trailers são até mais assistidos que filmes. Até reacts são feitos. Muitos confiam nos trailers, desconsiderando críticas ou opiniões de amigos. Cada vez mais são lançados: em versão de 2:30 minutos, versão estendida, teaser (às vezes enumerados), clipes (uma cena ou a música tema), os featurettes (que são comentários dos diretores e elenco), e outros.
Trailers também premiam
Assim como nos filmes, trailers têm críticas e até seu próprio festival com categorias premiadas, o Golden Trailer Awards. Acontece anualmente, desde 1999, em Los Angeles e premia o ramo dos filmes, dos videogames e comerciais de tv, nas suas 108 categorias.
Não é novidade que um trailer é o prenúncio de um filme, mas para entendedores (ou cinéfilos) isto nem sempre é crível, pois os estúdios que lançam seus filmes não fazem os trailers. Há uma outra indústria gigante por conta disso.
Se os estúdios não fazem trailers, como as empresas especializadas conseguem as imagens?
Conforme os filmes são finalizados, eles apresentam uma metragem total bem maior do que o que vai para as telas. Os estúdios americanos pagam para que as imagens autorizadas possam ser mostradas. Sem falar que ainda há a necessidade de fazer todo o marketing pesado e atraente.
Muitas cenas não serão usadas no filme, e outras não podem ser mostradas antes. Dessa forma tem-se o limite dado pelos estúdios, do que pode e o que não pode ser revelado. Ou seja, o que é do projeto de previews (prévias) e o que é exclusivo dos cinemas.
Portanto, quando um filme está em andamento, os diretores de criação das empresas de trailers recebem uma ligação direta dos estúdios, e já é feita uma reunião para que os trabalhos se iniciem. De 10 a 15 pessoas são necessárias para a criação: editores, escritores, compositores, assistentes e diretor criativo.
Eles praticamente trabalham em conjunto com os caras dos estúdios, levando quase o mesmo tempo de um filme. Ou seja, trailer é um projeto cinematográfico em si, e não um resumo de outro.
A jogada, segundo os criadores de trailers, está no foco em fazer um trailer com conteúdo, utilizando o material passado e repassando-o como eles querem.
E isto pode não agradar os diretores, considerando o alto índice de dissemelhança do trailer com o filme. Quem também não fica feliz muitas vezes é o espectador, que se emociona e cria expectativas com um super trailer que não foi verdadadeiro.
Carrie Gormley, co-presidente do Create Advertising Group, disse:
Como o trailer manipula você
- “Rise” : efeito de som com vozes que se eleva até aparecer uma cena que choca ou até mostrar o título;
- “Power down”: som grave que “cai” e fica suspenso, fisga você para uma cena imprevisível ou incerta;
- “Trailerização”: realce de uma música existente ou regravação de uma outra com tom bem diferente.
O cover da música New Devide (Linkin Park) não está na trilha original de Alita: Anjo de Combate, mas foi gravada especialmente para o trailer.
- “Click-click-boom“: sons ritmados com cenas específicas, que se repetem. Os clicks de armas, por exemplo, ou o som da respiração profunda de Leonardo DiCaprio no trailer de O Regresso.
Fique ligado
Quando os trailers ficam prontos para aquecer os cinemas, uma série de regras são analisadas antes. As regras são ditadas pela MPAA (Motion Picture Association of America), uma organização norte-americana que reúne os maiores estúdios cinematográficos de Hollywood, e, recentemente, a Netflix. Seu objetivo é dar um “valor” ao filme. Ou seja, uma classificação de seu conteúdo. Este procedimento é feito através de “tags” para serem mostradas nos trailers e demais produtos de marketing.
As principais, em comparação com o público daqui, são: G (livre para o público em geral); PG (maiores de 12 anos); R (maiores de 16); NC-17 (18+).
A revisão que a MPAA faz com os trailers não é para dizer se o filme ali falado é bom ou ruim. É para aprovar a compatibilidade deles com o longa que estão divulgando. Para exemplificar, digamos que o trailer de John Wick 3 – Parabellum não apresente indícios de que há lutas sanguinolentas. Isto seria incompatível com a classificação que foi submetida (R).
No entanto, tal classificação não indica somente a faixa etária, informando aos pais se um filme é apropriado aos seus filhos, mas também diz sobre o que foi alterado.
Como assim alterado?
Você com certeza já viu aquela faixa verde ou vermelha antecedendo um trailer. Ela aparece conforme o gênero que será exbido na telona após os trailers. Portanto, se tratando de filme de terror, a verde indica que as cenas seguintes foram amenizadas. No filme It: A Coisa, por exemplo, o sangue jorrando da pia é bem real. Porém, no trailer ele aparece com coloração escura, aparentando ser apenas sujeira.
Já com a vermelha, é permitido de tudo.
A arte de construir um material original baseado em um outro é manipulável demais pra ser bom. Mas, como o diretor do ramo Matt Brubaker disse ao canal Insider , “não é como uma pegadinha para o espectador, mas como uma forma de contar uma história em 2:30 minutos e não em 3 horas”.
Fonte: MPAA, Vice News, Insider, Golden Trailer Awards.
O que achou do artigo? Identificou alguma das táticas que fisgam você nos trailers? Comente com a Cinerama qual o último trailer que te manipulou.