Simone de Beauvoir e Jean-Paul Sartre, uma vida de hipocrisia!

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Os Amantes do Café Flore – Les Amants Du Flore

Direção: Ilan Duran Cohen

Sinopse:
Sorbonne, Paris, 1929. Simone de Beauvoir se apaixona por um carismático e rebelde jovem: Jean Paul-Sartre. Juntos, eles embarcam numa viagem erótica e emocional. Depois de vinte anos na profunda perversão, ela encontra forças para reivindicar sua própria identidade e fama.

Crítica:

“Ninguém nasce feminista, torna-se feminista”, esta deveria ser a definição-síntese de Simone de Beauvoir, uma mulher hipócrita que viveu de aparência.
Hipócrita, sim… Segundo Sartre “O homem nada mais é do que aquilo que ele faz de si mesmo: é esse o princípio do existencialismo.”.
As atitudes de Beauvoir, em sua dimensão íntima, não correspondiam a suas demonstrações ao público. Ela amava demais Sartre, tinha uma paixão fervorosa por Sartre, mas era completamente incapaz de admitir isso. O que podemos questionar dessa situação é o real motivo que fazia com que Simone negasse tanto o seu amor por ele. Eu arrisco dizer, pelo demonstrado no filme, que não é por uma motivação razoável, como eles afirmam… com certeza não é por ser uma atitude de burgueses. Mas tenho em mente, por outras avaliações extraídas de leituras de seus livros e biografias, que Simone negava os seus sentimentos porque sabia que o próprio Sartre não gostaria de ter ao seu lado uma mulher resmungona, que reclamasse por estar saindo em viagens com outras mulheres. Até porque não teria cabimento para o casal esse tipo de conversa. Pelo que foi voluntariamente pactuado entre eles no inicio do romance, não haveria a obrigação da fidelidade. No início tudo tem a predominância de uma perspectiva sob o olhar de Simone, por ela não querer, naquele momento, se casar. Parecendo momentaneamente partir dela fazer com que o pacto não restrinja as vontades carnais, o pacto apenas firmaria a lealdade de ambos sem compromissá-los, contudo.
Ela era escrava de um pacto, pacto esse que não a fazia feliz. Ao contrário, esfregava-lhe na cara que ela era tão dependente de um homem (Sartre), como qualquer mulher.

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Com o desenvolver da narrativa percebemos que Simone sente-se muito sozinha sem Sartre ao seu lado, ela como qualquer pessoa demonstra ter dependências, não só físicas, mas psíquicas e sentimentais. Simone, por mais forte que demonstrasse ser, era muito frágil não tinha seu sucesso. Sua inteligência, direcionada a “satisfazer a grande necessidade de si mesma” (outra citação de Sartre), tinha que obter a admiração de Sartre, era voltada para tudo a que Sartre se interessasse, esse deveria ser o interesse dela. Em várias cenas percebemos a entrega de Simone a livros e materiais dos quais teria que extrair um proveito intelectual. Invariavelmente eram leituras todas sugestionadas, ainda que apenas implicitamente, por Sartre.

Simone não traiu Sartre antes que ele o fizesse. Ela traiu depois que soube da primeira traição do seu amado. E, ainda assim, não alcançou, em sua dimensão personalíssima, a realização pretendida. A traição de Simone foi nitidamente uma vingança, mas uma vingança bem fraquinha, pois ela traiu Sartre com uma mulher! Não há nada errado em se deitar com outra mulher, nem em sexo por vingança (segunda Charles Harper da série Two And Half a Man:– sexo por vingança é o segundo melhor sexo. O primeiro é o sexo com raiva). O que há de errado é o momento da declaração de traição que ela faz a Sartre. Simone diz que não seria capaz de trair Sartre com outro homem. Este é o momento do filme que torna inquestionável a completa necessidade que Simone tem de Sartre. Ela era seu “castor”, apelido que Sartre deu a Simone. Ela acabara de demonstrar o quanto é submissa a esse amor, e claro… Sartre passa o resto da sua vida tirando proveito disso. Não estou aqui para menosprezar Simone de Beauvoir, o fato de ela ser submissa não diminuía em nada a pessoa que era. Não diminue o seu intelecto, as suas posições criticas, sejam politicas, ideológicas, filosóficas etc.

Não vejo nada de errado em se entregar ao amor. Ela criou dentro de si algo que nem ela sabia que iria ser prejudicial, demonstrou ser forte estando fragilizada e Sartre tirou proveito disso… usou psicologia inversa para fazer com que ela aceitasse o pacto. No fundo, se ele quisesse, sugerisse um relacionamento sério, um casamento de verdade, se ele persistisse, ela aceitaria. O momento em que eles resolveram ficar juntos era muito delicado, pois havia problemas com os pais, com a faculdade, perguntas sem respostas, desejo de mudar de vida, fazer algo novo, algo diferente daquilo que parecia ser uma regra imposta pela sociedade, uma convenção burguesa, que tornaria a todos infelizes, aquelas convenções sociais que tornavam tudo mais difíceis para pessoas diferentes. Eles eram os revolucionários da época, ganharam fama, admiração, seguidores… Mesmo que Simone de Beauvoir não acreditasse de fato no que pregava, mesmo sentindo -se infeliz diante de suas escolhas amorosas, ela não conseguia ir adiante sem a “bênção” de Sartre. Toda a teoria filósofica que pregavam girava em torno do pensamento dele, da forma como Sartre via o mundo. Acontece que Simone era tão parte da vida de Sartre que acabava por enxergar a vida pelos olhos dele, sentia a vida pelo modo como ele vivia e tomava essa vida para si, como se lhe fossem ideias próprias. Simone era essa dualidade (Beauvoir e Sartre) unitária, enxergava a vida, o sentido da vida e a filosofia de vida pelos olhos do amado. E isso é mais digno do que qualquer filosofia, isso é amor, é entrega…

Ela só não foi mais infeliz como mulher (obs: como mulher, não como pessoa… o intelecto dela é inquestionável), porque conheceu Nelson Algren, tranformado em seu amante, por quem realmente se apaixonou e com quem viveu longos anos de uma paixão avassaladora. Despertou até o desejo burguês do casamento, chamava Nelson de MEU MARIDO. Mas foi uma paixão que terminou em amizade…
Simone de Beauvoir era muito romântica, tinha uma paixão desesperadora pelo amante Nelson Algren. Nas cartas que escrevia a Nelson Algren, ela mostra como sente saudade do amado, como seu corpo sente a necessidade de ter “seu marido” ao seu lado… Queixa-se frequentemente da demora das cartas-resposta demonstrando, assim, o desejo de posse.
A relação de Sartre com Simone é muito curiosa porque, apesar de ser um relacionamento aberto, ela também se mostrava muito ciumenta. Em algumas cartas é possível perceber a raiva que possuia de algumas amantes de Sartre. Também nunca quis abrir mão de Sartre para se entregar totalmente ao amante Nelson.

Contrariando postura que o feminismo taxa como inadmissível, Simone era tão submissa como qualquer outra mulher apaixonada. E, pasme-se, fazia questão de demonstrar que queria ser dominada. Tinha o costume de contar tudo o que acontecia no seu cotidiano, contava os detalhes, o que achava, o que sentia… Como se, de fato, o amante fosse seu marido. Tinha muito medo de envelhecer, dizia para Nelson que só havia uma maneira de retribuir o bem que ele fazia: se mantendo jovem e linda por milhares de anos… Tão superficial !

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