O Irlandês | Um relato de amor

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Desde sempre eu amei filmes de máfia. Do momento em que vi “O Poderoso Chefão” (1972) pela primeira vez, na sala de casa com meus pais, até a hora em que fiquei chocado com o glamour e violência de “Os Bons Companheiros” (1990).

Acho que só os faroestes chegaram a me tocar tanto quanto os filme de gângsters. Não deixa de ser irônico, filmes tão rudes provocarem tamanha sensibilidade em mim, mas acho que isto apenas comprova como certas obras são muito mais do que seu gênero em si.

Fred Zinnemann, um grande cineasta e diretor de um dos melhores faroestes já feitos: “Matar ou Morrer” (1952), o definiu como um filme sobre consciência, porque não era um faroeste, apenas se passava durante o velho oeste.

Passando por esse tema, acho formidável como certos diretores vão além do que o tema do filme promete, indicando discussões que ultrapassam a própria mitologia do gênero. “O Irlandês” é um exemplo claro disso, com Martin Scorsese fazendo seu melhor.

Ver um filme de máfia pela primeira vez sempre traz sensações difíceis de explicar, seja pela surpresa em conhecer um novo mundo ou até mesmo pelo sentimento de já estar em casa naquela realidade tão cruel mas tão familiar.

Rever um filme de máfia, então, é ainda melhor. Captar tudo o que ficou escondido, relembrar os momentos que lhe deixaram sem respirar e conhecer novas facetas dos personagens que eu tanto amo.

Os gestos, os xingamentos, os clichês e até os assassinatos me cativaram do começo ao fim nestes filmes. Meus olhos não saíram da tela e parece que “O Irlandês” (2019) resume tudo isso em 3h30, com uma trama que condensa tudo o que sempre amei.

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Em certos momentos até se parece um dos capítulos de “O Poderoso Chefão“, com temas como: memória, legado, solidão, família e tempo. Sendo este último o mais importante: a trama gira em torno da ação do tempo em personagens que apenas tentam sobreviver em um mundo que os pressiona a cada momento.

Se com “O Poderoso Chefão“, Coppola busca analisar as consequências das ações criminosas da família Corleone sobre seus indivíduos, Scorsese, com “O Irlandês“, procura entrar no psicológico de seus protagonistas, demonstrando os efeitos que a violência traz ao seu futuro e aos amados ao seu redor.

O peso de uma vida pautada por elementos tão negativos acaba por chegar aos personagens. As formas são variadas mas ele sempre chega. Indo além, é como se o peso fosse até a própria mitologia construída ao redor dos homens que os interpretam.

Pacino, DeNiro e Pesci são quase mitos e lendas, verdadeiras metáforas para a figura do mafioso. Neste filme, é como se suas carreiras se fechassem, com um melancólico adeus e uma jornada que emociona da primeira cena até a última.

É um épico em todos os sentidos. Seja por sua duração extensa ou por sua realização magistral. O filme encerra todo um ciclo para pessoas como eu que simplesmente amam estes filmes e estas histórias. Ainda há muito o que se contar, claro, mas o essencial foi finalizado e só isto importa.

O Irlandês” é belo em todos os sentidos e trata de temas que são fundamentais para qualquer ser humano. É um filme sensível num mundo onde a violência é o que impera. Assistam e sintam o peso de uma memória que não deve nunca ser esquecida.

Veja também: https://cineramaclube.com.br/10045615/critica-o-irlandes/

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