O Farol, a crítica
Robert Eggers surge mais uma vez após o estrondoso sucesso do seu, já clássico do terror, A Bruxa. Dessa vez, em O Farol, ele apresenta um terror sensorial cheio de interpretações.
O Farol
O filme retrata o cotidiano de um jovem aprendiz, Ephraim (Robert Pattinson), ao se mudar parcialmente para uma ilha onde irá se desenvolver para um dia ser um faroleiro, guiado pelo velho Wake (Willem Dafoe).
O isolamento, a crescente perturbação do aprender, as necessidades sexuais inerentes ao homem e o aparente inalcançável, porém, tornam todo essa experiência um estágio para a loucura.
O Farol é o segundo longa metragem dirigido por Robert Eggers. Conhecido por A Bruxa (2015), o diretor já é referência no terror contemporâneo, produzindo junto com diretores como Ari Aster, clássicos instantâneos do gênero no século XXI.
O Farol, o falo do homem acima da natureza
O homem desde sempre desejou conquistar as forças naturais e moldá-la ao seu conforto e necessidade, seja por questões de próprio prazer, seja por questões mercadológicas capitalistas.
O farol é um símbolo de conquista humana sobre os mares, um guia em formato fálico que não permite ao gigante oceânico por a perder navios mercantes e seus valiosos tesouros no escuro abismo.
Essa relação de homem com a natureza é um dos fatores perturbadores em O Farol, desde o plano em que é apresentado o falo de pedra erguido em uma ilhota em meio ao gigante oceano, à relação de superstição com as gaivotas, entendemos que existe sempre um meio termo entre a sensação da conquista e da grandiosidade do homem sobre as forças naturais e a certeza, ainda que subconsciente, da sua insignificância, posteriormente confirmada.
A fraqueza dos imperadores – O Farol
O homem é um animal racional, no entanto, sua racionalidade é controlada em boa parte do tempo por instintos primitivos e limitada pelos próprios.
A ambição, a perda das paixões, a inevitável substituição pelo novo e o desejo sexual são evidenciados no longa como fatores enlouquecedores dos que, em seu sentimento de majestade, se colocam no meio da natureza e se atrevem a conquistá-la, como imperadores de um pequeno território que se aventuram em conquistar uma galáxia.
O Farol representa em muitas vezes o desejo que cega e que mata, o desejo que apaga a racionalidade e transforma os homens em animais ansiosos pelo prazer do possuir.
O gigante de pedra, nesse sentido, torna-se a última peça a se agarrar por uns, já abalados por paixões perdidas e pela velhice que corrói e lembra da sua finitude, e uma nova conquista a se buscar por outros, que com seu vigor e crescente desejo, se acham merecedordes imediatos dos prazeres que buscam.
O uso da mitologia em O Farol
O farol é como um elemento divino, um gerador de uma estrela única capaz de orientar embarcações no caminho certo ao destino, salvando-as da morte. Sendo assim, quem controla o farol é um deus que possui a chama do conhecimento do bem e do mal.
Essa relação fica bem clara em planos do filme que separa, em questão de nível, o personagem Wake do jovem Ephraim, o professor e o aluno, o ser superior e seu assistente, o Deus e o servo (essa relação se torna bem visível em um certo plano do filme onde Wake se transforma, literalmente, em um farol para Ephraim).
E como Prometeus, Ephraim age sempre a partir de determinado momento, com o intuito de tocar o fogo dos deuses e ser, a partir daí, detentor também da chama. Uma clássica utilização a mitologia para representar a ambição.
A mitologia está presente também para representar outro aspecto importante do homem: seus desejos sexuais.
Desde o início a figura da sereia é apresentada como um tormento, uma maldição para o homem se isola na ilhota e isso é, entre aspas, “personificado” mais tarde, sendo a sereia, que encanta pescadores para seus domínios através da sexualidade de sua canção, mais um elemento enlouquecedor do homem, belissimamente utilizado.
A fotografia de O Farol
É impossível não destacar a fotografia do longa. O filme gravado em preto e branco, com câmeras antigas e um aspect ratio (enquadramento da imagem visível na tela do cinema) que traz referência do expressionismo alemão, O Farol concorreu ao oscar de direção de fotografia desse ano.
Além de contribuir com a questão da construção da sensação de perturbação mental (tanto para os expectadores, quanto em relação aos personagens), com o preto e branco, também o aspect ratio impõe uma sensação de proximidade aos personagens, isolados juntos, como também uma sensação claustrofóbica de solidão quando são divididos na tela, seja por pilares, seja pela insignificância de estarem apertados junto ao símbolo que controla seu micro universo.
Veredito sobre O Farol
O Farol é um filme com muitas interpretações possíveis, dependendo de quem assiste. E pode ir de interpretações simples até as mais complexas.
O fato é que Eggers construiu mais um bom filme, bem referenciado e com estética impecável no que se propõe a fazer, mais uma confirmação do talento do jovem diretor dessa nova safra de filmes de terror que veio para impor cada vez mais respeito.
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