Livro | Frankenstein | O verdadeiro monstro de Mary Shelley

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Ler um clássico é desafiador. A linguagem distante somada as referências incomuns criam uma barreira entre o leitor e o livro. Frankenstein ainda contém um obstáculo extra, é a ideia preconcebida incorreta a respeito do monstro.

A cultura pop usou esse nome de todas as maneiras possíveis. Ele aparece em desenhos animados, filmes, animações – até em embalagens de cereal – e para piorar, todas as suas aparições (ou pelo menos, 99,99%) estão incorretas, diferentes, e bem diferentes, de como ele foi apresentado no livro.

A trajetória desse monstro além do livro e importância da sua autora são questões que podem ser discutidas em outro momento. Até porquê, esta edição da Darkside da qual vamos falar, contém textos de apoio excelentes, de modo que o livro acaba ficando completo por si.

Focando na história: Frankenstein é um aluno universitário naturalista. Muito influenciado pelas descobertas da época na área de energia elétrica e evolução – estamos falando da época do avô do Darwin, não confundir – Frankenstein é um produto do seu tempo. Curioso ao ponto de se tornar obsessivo. O estudante elabora pesquisas e experiências com o intuito de animar um corpo artificial.

Dedicado ao aperfeiçoamento da condição humana, o cientista consegue animar um corpo que é, em todos os fatores, superior aos humanos. Rápido, resistente e com excelente capacidade cognitiva, o monstro criado por Frankenstein é uma aberração de enorme potência.

Renegado pelo seu criador, a criatura descobre o mundo sozinha. Isolado do convívio humano graças a sua aparência monstruosa, o monstro é obrigado a viver nas sombras e absorver as qualidades humanas por um filtro de rancor e desprezo.

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Leitor ávido, ele elabora delicados pensamentos filosóficos, inclusive faz análises frias sobre a sua própria condição. Amargurado contra o seu criador, o monstro torna-se um pesadelo para Frankenstein.

Estamos nas primeiras décadas de 1800, o que faz com que o texto se enquadre nos quesitos do Romantismo. Contudo, Mary Shelley procurou incorporar as descobertas recentes da ciência em seu livro. O resultado é que, possivelmente, Frankenstein esteja entre os primeiros – se não, o primeiro – livro de ficção cientifica já lançado. (dependendo dos quesitos escolhidos).

A história é intensa, sua narrativa é carregada e eu não vou fingir que seja fácil para um leitor de 2018 encarar um romance Romântico de 1818. Mas, pense comigo, um livro que sobreviveu por 200 anos (e ainda tem muito conteúdo para viver por mais 200), certamente merece a sua atenção e é um desafio válido.

Esse é o lance com os grandes romances e com os grandes clássicos. A sua leitura pode ser áspera e difícil no começo, contudo, terminar um clássico é recompensador. Você sabe que enfrentou um ótimo livro e aperfeiçoou a sua capacidade como leitor.

Essa edição contém textos de apoio e outros contos da escritora. Um material ótimo para contextualizar o leitor e ainda serve para ilustrar a importância da narrativa. As imagens e a encadernação estão muito bem feitas, o que aumenta o poder de imersão do livro.

Se você quiser descobrir as origens dessa criatura que transborda pela indústria do cinema, não deixe de ler o livro de Mary Shelley e reaprender tudo o que você pensava saber sobre o assunto.

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