Literatura | 5 livros sobre cinema

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Há várias maneiras de apreciar um filme, há diversos tipos de espectadores e, consequentemente, diferentes espécies de gêneros* e estilos** de filmes.

O cinema é uma arte que abarca outras, sendo algumas obrigatórias e inerentes à própria forma do “fazer cinema”. São as outras artes: 1- música (som); 2- dança (movimento); 3- pintura (cor); 4- escultura (volume); 5- teatro (representação); 6- literatura (palavra); 8- fotografia (imagem); 9- Quadrinhos; 10- jogos virtuais; 11- arte digital (gráficos computadorizados em 2D, 3D e programação). Lembrando que o “7” é o próprio cinema.

Nesse sentido, o cinema recebe muita influência do meio, tanto de forma direta (o cinema e sua linguagem autônoma), quanto de forma indireta (pela influência das linguagens das outras artes), salientando também os aspetos sociais que inspiram e/ou possibilitam roteiros (o que contar) e narrativas (como contar).

À vista disso, o cinema entendido como “arte” em sentido lato possui respaldado literário acadêmico, isto é, para quem tem interesse em se aprofundar na área, eis o objetivo desta lista de livros. Vamos lá?

1- A Arte do Cinema: Uma Introdução – David Bordwell e Kristin Thompson

Desde sua primeira edição (1979) esta obra é referência no ensino estadunidense, sendo traduzida para diversas línguas e submetida à revisões e atualizações periódicas.

A obra possui uma linguagem acessível e fluída, composta por 12 capítulos divididos em 6 partes repletas de imagens de alta qualidade com cunho exemplificativo e explicativo.

Na primeira parte há uma apresentação evolutiva da técnica e da realização cinematográfica, o detalhamento dos processos de produção, distribuição e exibição. Nas segunda e na terceira, respectivamente, expõem-se sobre a forma fílmica e o estilo (mise em scène; cinematografia, montagem, som e estilo). A quarta parte ocupa-se dos tipos de filmes e a quinta da “análise crítica de filmes”, demonstrando a metodologia para a análise de filmes, baseada nos elementos expostos nos conteúdos do livro. Por fim, na última parte, a história do cinema. Vale salientar que cada fim de capítulo conta com um bom resumo, listas de filmes ou recomendações de complementos midiáticos.

Bem, só pelo exposto acima, já seria mais do que uma boa defesa da obra, no entanto há também um índice onomástico de títulos e o glossário de termos cinematográficos.

Um grande trabalho acadêmico! Um curso!  Muito completo e como já demonstrado, contempla todas as áreas envolvidas no estudo da sétima arte! Vale cada centavo!

2- História do Cinema Mundial – Fernando Mascarello (organizador)

De acordo com o organizador, o objetivo da obra é expor historicamente (cronologicamente) a evolução do cinema enquanto arte e técnica. A linguagem é descomplicada e a leitura agradável.

Sobre o início da leitura, pode-se afirmar que é muito completo, apesar de breve, fazendo jus ao título “História” da obra. Desde as criações dos instrumentos óticos de projeções de imagens, passando pelo “cinema de atrações” e, depois, o “cinema de transição”, onde já se inicia a divisão e especialização do trabalhos e funções (diretor, roteirista, cenógrafos, maquiadores…) devido o aumento da produção cinematográfica e a exigência de racionalização executiva.

Ao longo dos capítulos, os autores apresentam 17 momentos-chaves da trajetória do cinema mundial muito bem contextualizados e atentos às especificidades das técnicas implicadas nas produções, levando-se em conta aspectos econômicos, políticos, socioculturais e tecnológicos

5 “capítulos” abarcam essa “viagem”: 1) primeiro cinema; 2) vanguardas dos anos 1920 (Impressionismo francês, Expressionismo alemão, montagem soviética e Surrealismo); 3) gêneros hollywoodianos (Western e film noir); 4) cinema moderno (neorrealismo italiano, Nouvelle Vague, documentário moderno, Cinema Novo brasileiro e Cinema Novo alemão); e 5) vertentes contemporâneas (cinema e gênero, cinema pós-moderno, cinema de terras e fronteiras, cinema hollywoodiano contemporâneo e cinema e tecnologias digitais).

Uma excepcional aula de História ao alcance das mãos e dos bolsos!

3- Hitchcock Truffaut: Entrevistas – Edição Definitiva

Esta indicação, diferente das duas anteriores, possui um conteúdo mais denso e consiste na transcrição de 500 perguntas feitas por Truffaut ao Hitchcock como resultado de 50 horas de entrevistas pautadas sobre a carreira do mestre do suspense e analisada de forma cronológica.

A proposta da conversa foi:

  1. As circunstâncias que cercaram o nascimento de cada filme;
  2. A elaboração e a construção do roteiro;
  3. Os problemas de direção específicos de cada filme;
  4. A avaliação por ele mesmo do resultado comercial e artístico de cada filme em relação às expectativas iniciais 

Apesar dos termos mais densos para não iniciados, a “conversa” flui de forma coloquial e passa uma atmosfera amigável.

Alguns exemplos de temas abordados:

– Diferença entre “suspense” (a expectativa diante do desdobramento de uma situação de risco da qual o espectador possui todos os dados e, por isso mesmo, tem o que temer) e “surpresa” (a violência inesperada, instância do choque).

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“A arte de criar o suspense é ao mesmo tempo a de botar o público ‘por dentro da jogada’, fazendo-o participar do filme. Nesse terreno do espetáculo, um filme não é mais um jogo que se joga a dois (o diretor + seu filme) e sim a três (o diretor + seu filme + o público).

– Elogio à mise en scène de Hitchcock que revela muito bem as emoções além do que é manifesto nos diálogos.

– Uso de MacGuffin (artifício de roteiro pautado em um objeto, pessoa ou sensação que motivam a impulsão narrativa, mesmo que depois esse artifício não tenha tanta relevância para a história).

Por fim, cabe dizer que é recheado de ilustrações de fotos de bastidores e fotogramas.

Aqui, aula de cinema com quem fez cinema! E com quem, né? Dispensa explicações!

4- Story: Substância, Estrutura, Estilo e os Princípios da Escrita de Roteiro – Robert McKee

Agora, um livro especificamente sobre roteiro, “o que contar”, e, dentro disso, o FORMA para a elaboração de uma boa história. McKee é um respeitado professor universitário norte-americano, atuou como consultor de grandes estúdios cinematográficos e televisivos. A obra em questão é conhecida como “a bíblia do roteiro”, vamos, brevemente, evidenciar os porquês.

Em primeiro lugar, ele deixa claro que “Story” é sobre princípios, e não regras, sobre formas eternas e universais, e não fórmulas, mas o que isso quer dizer?

Os princípios são os elementos que compõe a estrutura do roteiro, as ideias norteadoras da “arte” que dão sentido lógico, compreensivo e racional à narrativa, regras são normas imperativas, que traz em si o caráter de exigência.

Logo, a proposta é ensinar o sistema básico da criação de roteiros (estrutura), por meio de conceitos básicos como: estilo; composição; crise; clímax; resolução; criação de personagens, e outros diversos vocábulos derivados.

Dessa forma, McKee incita o leitor/aprendiz a subverter os possíveis conteúdos narrativos, sem abrir mão da boa forma.

O roteiro é a primeira etapa do processo produtivo audiovisual, nesse sentido, uma lista de indicações literárias sobre cinema não poderia negligenciar essa etapa.

O livro é cheio de exemplos! Tudo sobre estrutura/construção de roteiro e seus elementos em um único livro!

5- Grandes Filmes – Roger Ebert

A última indicação desta lista, aparentemente, pode soar como somente um guia recomendativo, mas não! Até porque o autor deixa claro na introdução que a obra é uma continuidade da “A magia do Cinema”, que possui outros títulos considerados “bons” e não “os melhores”. É explícito também que as escolhas dos filmes contidos nesses dois livros são baseadas de acordo com as preferências de Roger, sem abrir mão das qualidades técnicas, papel histórico e influência dentro da evolução do cinema.

O trabalho conta com uma breve sinopse dos filmes e o mais importante: análises dos mesmos, tendo em vista aspectos técnicos. Eis o trunfo da obra: a materialização de boas análises de filmes. Bom para quem quer apreciar boas análises, ótimo para quem quer aprender vendo boas análises.

Vá na fé!

Em 2017, O Vinícios, outro redator do Cinerama, já havia escrito uma lista com 5 livros sobre cinema, aqui está o link:

“5 Livros para aprender sobre cinema”

Assim sendo, ficam como complementares as listas, não deixem de conferir o link acima também!

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*Gênero: vários tipos de filmes que o público e os cineastas reconhecem devido a convenções narrativas familiares. Gêneros comuns são o musical, o policial, a ficção científica.

**Estilo: uso repetido e marcante de técnicas cinematográficas particulares, características de um único filme ou de um grupo de filme (por exemplo, a obra de um cineasta ou um movimento nacional).

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