HQ | V de Vingança | Sem mocinhos nem finais felizes
Quadrinhos são uma maneira diferente de experienciar uma história ou conto. Com peso-pesados como Watchman, Maus e Batman O Cavaleiro das Trevas, os quadrinhos estão presentes nas nossas livrarias contendo histórias tão – ou mais – negras e violentas quanto a suas séries ou filmes preferidos.
V de Vingança é um exemplo excelente do poder narrativo dos quadrinhos. Roteirizado por Alan Moore e a arte feita por David Lloyd, o quadrinho é dono de uma história potente e sem tempo para respirar.
O grande lance dos quadrinhos é que as cenas são resumidas ao extremo. Ele está no meio do caminho entre um livro e um filme. Todas as referências de imagens que você tem estão condensadas em um quadro único, com a função de demonstrar qual é a sensação daquele momento. Os balões de diálogos ou os trechos do narrador também estão concentrados e resumidos ao extremo, ou seja, a dinâmica da história ganha velocidade.
Em V de Vingança essa vantagem dos quadrinhos foi utilizada de maneira surpreendente e o resultado é uma história que te segura da primeira até a última página.
Nota-se uma paixão presente pela história que está sendo contada, David Lloyd e Alan Moore acreditavam naquela narrativa e mais do que produzir um simples quadrinho, eles procuraram produzir um protesto.
Lançada no final dos anos 80, o quadrinho trata o leitor como um adulto que ele é.
Vamos falar da história:
Não vou acreditar que você vai pegar esse quadrinho pela primeira vez sem ter visto o filme de 2005, contudo, não pretendo discutir o filme escrito pelos irmãos Wachowski – embora seja um filme que eu goste bastante – vou procurar manter o foco no quadrinho.
Ambientado em uma Inglaterra pós-guerra nuclear. A história é narrada do ponto de vista de alguns personagens, entre eles o próprio líder político (aqui, uma diferença clara quando comparado ao filme). E claro, pelo ponto de vista do anti-herói V.
V é um personagem cheio de contradições. Seu anarquismo poético funciona como uma força motriz para as suas ações, que torna as suas cenas tão interessantes. V não quer apenas derrubar o autoritarismo, ele quer passar uma mensagem. Seus modos de agir e os seus monólogos deixam claro que, mais do que explodir prédios e derrubar poderosos, V procura destruir os ideais que colocaram os autoritários no poder. De modo que, ele busca libertar a mente da população, ante de libertar o seu corpo.
V de Vingança é uma obra sobre a política. Assim como os livros de George Orwell, o quadrinho ganha camadas a medida que o leitor se interessar pelo assunto. Isso não significa que ele não possa ser lido apenas como uma história comum. Quem estiver procurando uma história de anti-herói encontrará uma boa, quem estiver procurando um estudo político sobre o Fascismo, também ficará feliz.
Com esse personagem que ganhou notoriedade e até algumas interpretações incorretas, desenvolvido por um grupo de jovens que sentiram a mão pesada de Margaret Thatcher nos anos 80 e repleto daquele medo/receio por um futuro incerto que atinge todas as gerações. V de Vingança é uma história bem contada, veloz e que não faria mal nenhum para você, independente do seu gosto político.
Carregado de sexo, depressão e traições. O quadrinho é sufocante, pesado, opressivo. Existe um mundo deformado e angustiante, as páginas parecem a descrição de um pesadelo.
O quadrinho V de Vingança é a história crua, matéria prima sem nenhum filtro. Vale a leitura.
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