O cyberpunk é uma das camadas da ficção científica, que mostra o contraste entre a alta tecnologia e a qualidade de vida muito baixa.
Além dos carros que voam e dos hologramas todo lugar, algumas de suas características são um sistema que cega as pessoas, que faz uma “lavagem cerebral” para que todos acreditem que ele é o salvador, isso porque o sistema não quer ser destruído nunca, em contra partida há sempre um personagem/grupo que se dedica a destruir ou abalar esse sistema de alguma forma, porque é dele a culpa de toda a desgraça que acontece, e é sobre isso que falarei aqui, um comparativo entre situações iguais em contextos diferentes.
Em Altered Carbon temos Takeshi Kovacs, Relieen Kawahara e Quellcrist Falconer, eles formam a resistência de soldados anôminos que querem acabar com o sistema do FHD, são Emissários. Em 3% temos Michele, Rafael, Fernando e Joana, membros de um grupo que quer acabar com o processo, a Causa.
ARMAZENAMENTO
A primeira semelhança aqui é o armazenamento, os dois são diretamente ligados ao DNA dos humanos.
O FDH (Altered Carbon) é um cartucho que fica na nuca de todos, implantado quando a pessoa completa 1 ano de idade, nele fica armazenado todo o material genético e todas as memórias, as pessoas podem trocar de corpo – eles chamam os corpos de capa – quantas vezes quiserem, ou pelo menos quantas vezes o dinheiro delas permitirem, os matusas (pequena parte da população que vive mais de 300 anos) cultivam seus próprios clones, quando um envelhece um pouco, eles trocam por outro, igual, mas também podem trocar por capas diferentes. Esse comportamento é a maior crítica da Falconer, criadora da resistência, ela quer acabar com isso, se o FHD for corrompido, é morte real, não adianta colocar em outro corpo. Todos os códigos do FDH são guardados em uma central que é chamada de Comando Geral.
Já o registro (3%), é um dispositivo colocado atrás da orelha, ele guarda tudo que a pessoa fez durante a vida, com quem ela falou, seus familiares, vida escolar, se a pessoa tomou todas as vacinas que o próprio sistema oferece, os organizadores do processo fazem vista grossa para a maioria dos participantes e ficam observando quem eles têm interesse – o que aconteceu com a Joana e a Michele inclusive, o Ezequiel, responsável pelo processo que duas as duas participaram, procurou toda a história da Joana, que tem um registro falsificado, e descobre que a Michele é da Causa. Todos os códigos genéticos são armazenados no Continente e no Mar Alto, em um comportamento biológico em formato de concha, esse compartimento é protegido com água 100% pura, qualquer diminuição na pureza pode literalmente matar o dispositivo, ele é um organismo vivo.
O PLANO DE DESTRUIÇÃO
Os dois planos consistem em invadir a central, roubar os dados e destruir tudo que tinha neles.
Agora os detalhes: a Falconer desenvolveu um vírus que reprogramaria todos os cartuchos, colocando assim o limite de 100 anos, isso acabaria com todos os matusas. O sistema de classes da sociedade de Altered Carbon não é baseado somente em poder aquisitivo, ele também é baseado em quanto tempo a pessoa é capaz de se manter viva, quantas capaz ela pode ter, a Falconer acredita que isso tirou a humanidade das pessoas, “a morte não vai ser mais um pequeno inconveniente”, é o que ela diz.
Em 3% a Causa decepcionou a Joana, Fernando e a Michele, o que fez com que eles continuassem lutando contra o sistema só para defender o Continente, a Causa só queria acabar com o processo, eles três queriam quebrar o sistema em si. O único que continuou com a Causa foi o Rafael, porém eles ainda sim tinham o mesmo objetivo, destruir o sistema
Aqui tem um ponto muito importante: o processo era dito como a salvação deles, literalmente uma salvação, existem igrejas que pregam como o processo é bom e como o casal fundador é perfeito e tal. Em Altered Carbon também tem isso, os matusas são tratados como deuses e gostam mesmo de ser venerados pelas pessoas pobres que estão doentes.
Mas voltando ao assunto, os três decidiram acabar com o processo entrando na central, a Michele e o Rafael no Mar Alto, a Joana e o Fernando no Continente, eles apagariam todos os códigos genéticos, fazendo com que o processo fosse cancelado e nunca mais existisse ou abrisse portas para uma discussão de um processo justo de verdade.
TRAIÇÃO E FRACASSO
Óbvio que não deu certo, claro que falhou, se você esperava outra coisa, foi muito ingênuo, agora o motivo você nunca vai imaginar.
A Reileen Kawahara é irmã do Takeshi Kovacs, irmão esse que ela é obsessivamente apaixonada. Dada a missão suicida dos Emissários, ela faz um acordo com o sistema, o acordo era: matar todo seu batalhão com um ataque, o ataque seria atrás dos cartuchos, quem sobrevivesse os soldados do próprio sistema matariam, toda a região onde os Emissários ficavam foi queimada, a condição do acordo era que Takeshi e Relieen saíssem intactos, o que não aconteceu.
Michele é apaixonada por Fernando e tenta a todo custo salva-lo, por incrível que pareça ela sempre o protege, ela rouba todos os códigos genéticos do Mar Alto, esconde em um pen drive, vai até a responsável pelo processo 105 e faz um acordo: ela devolve todos os dados se eles derem suporte para um reparo de todos os danos causados pelo sistema no Continente, o que aconteceu no final das contas.
Ou seja, Michele e Reileen traíram a confiança de todo mundo por causa de uma pessoa que elas amavam.
O ponto aqui é que são contextos muito diferentes, porém igualmente distópicos, a superlotação em Altered Carbon não é tão evidente quanto em 3% por dois motivos: 1 Altered Carbon se passa depois de 2300 e 3% se passa em no máximo 2110 e 2 porque basicamente o Continente está devastado por seca e falta de comida. A culpa disso é toda do casal fundador. A única esperança da população é um dia passar pro Mar Alto através de um processo injusto.
Enquanto isso em Altered Carbon as pessoas mais pobres e doentes ficam na esperança de um matusa trocar a capa deles, coisa que jamais será feita porque eles precisam da veneração dessa classe pra se manter longe da mesma, inclusive quando o Takeshi questiona um deles, e sua resposta é “eu não devo concertar nada!”. Ele diz isso enquanto caminha por uma população infectada por uma boma biológica, mostrando que se sacrificava por eles, morrendo ali, como o próprio Jesus Cristo e depois ressuscitando em um clone.
Tudo se trata do endeusamento que o sistema sofre por parte das pessoas que estão cegas e do preço das pessoas que enxergam a podridão deles estão dispostas a pagar. Seja sacrificando seu grupo ou a confiança de todos.