Crítica | Tully

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“Tully”, novo filme dos criadores de “Juno”, explora as dores e as delícias da maternidade. (? Diamond Films / Divulgação)

A roteirista Diablo Cody e o diretor Jason Reitman formam uma dupla e tanto. Quando há uma reunião entre esses dois, há de se esperar algo no mínimo curioso.

São frutos desta parceria os ótimos Juno (Oscar de Melhor Roteiro Original em 2008), e Jovens Adultos (filme que foi mal nas bilheterias, mas está longe de ser ruim).

A coisa fica ainda melhor com a adição da talentosa Charlize Theron (também presente em Jovens Adultos). Aqui, mais uma vez o espectador tem a chance de ver a bela dando uma “pausa” em projetos grandiosos e de orçamentos multimilionários, e emprestando seu brilho a algo mais modesto e fora do circuito dos blockbusters.

Tully, novo lançamento da Diamond Films, que estreia no dia 24 de maio, em circuito nacional, apresenta um enredo simples, trivial: Marlo (Theron) é mãe de duas crianças e aguarda o seu terceiro filho. Quando o bebê nasce, Marlo se vê exausta e precisa trabalhar sua relutância em aceitar a ajuda da babá Tully (Mackenzie Davis).

Num primeiro momento, o filme, com uma trama tão simplória e comum, pode passar a impressão de bobo, e não ser levado a sério, e é justamente aí que reside toda a sua competência e força.

Tully já monopoliza a atenção logo na primeira cena: uma linda tomada acompanhada pela música Ride Into The Sun, da banda The Velvet Underground, que mostra um momento de cumplicidade entre Marlo e um de seus filhos.

A trilha sonora, aliás, é um dos destaques da película: as músicas se encaixam perfeitamente nas cenas do filme, e dão a impressão de terem sido compostas especialmente para este projeto.

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O roteiro de Cody é de extrema inteligência, e consegue manter a atenção e o interesse da plateia na maior parte do tempo. A habilidade da roteirista em trabalhar a estrutura de cenas cotidianas, de forma a torná-las atraentes, é o ponto positivo da mesma, e talvez um dos segredos de seu estilo de sucesso.

Como complemento, os diálogos são repletos de tiradas cômicas, e trazem leveza através de sucessivas piadas que, apesar da profusão constante, não são cansativas.

Na pele de Marlo, Charlize Theron (Monter – Desejo Assassino, Mad Max – Estrada da Fúria) apresenta um relato sincero da maternidade. Tudo está presente: o esgotamento físico e emocional, as inseguranças, e os medos. Charlize, sempre muito talentosa e dona de uma técnica quase impecável, rouba a cena e faz o público acreditar que de fato é uma mãe em crise.

Notável também o trabalho de Mackenzie Davis como a personagem-título. Davis (Blade Runner 2049) é graciosa e dinâmica na tela, a antagonista perfeita de Theron.

Muito mais do que “babá” e “patroa”, Tully e Marlo desenvolvem uma relação de amizade, cumplicidade e apoio mútuo. Num primeiro momento, Tully parece ser a heroína de Marlo, mas conforme o filme avança, percebe-se a importância de ambas e o que parece ser uma relação unilateral, passa a ser abertamente recíproca.

Quebrando um pouco a hegemonia agradável do filme, a porção final traz uma duvidosa surpresa, que deixa algumas pontinhas soltas e também algumas questões no ar, o que gera uma pequena confusão no entendimento do longa-metragem. Mesmo assim, nada tão sério que ameace a totalidade do projeto.

No geral, Tully é divertido, gracioso e competente e tem a marca registrada de Diablo Cody e Jason Reitman: a trivialidade vista com lentes de aumento e uma porção generosa de ironia. O cinema “indie” agradece!

Assista ao trailer:

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