Crítica | Tinta Bruta

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Apresentado na Berlinale no começo deste ano, Tinta Bruta,  é um filme nacional vencedor de prêmios como: Teddy Award (melhor filme) e Melhor Filme do Júri Oficial no Festival do Rio de Janeiro.

Dirigido por Filipe Matzembacher e Márcio Reolon. Com atuações de Shico Menegat, o filme é um constante rasgar de trapos.

Afogue-se

Situado no centro de Porto Alegre, a equipe foi capaz de criar um universo de vazio sufocante. Temos a impressão de que os personagens estão constantemente submersos, desesperados por ar.

A história trata de Pedro (Shico Menegat) que faz exibições online em troca de um pouco de dinheiro. Conhecemos Pedro dentro de uma audiência em que ele é acusado de agredir uma pessoa. 

O roteiro encontrou espaços fortes para salpicar o expectador com informações soltas. Você precisa juntar as peças para construir a imagem de Pedro na sua cabeça.

Falando em interpretação, o personagem é trancafiado dentro do universo. O ator conseguiu transmitir muito bem toda a sensação de inadequação e solidão presentes na vida de uma pessoa claramente depressiva.

Você nota como ele se esforça intensamente para manter-se na rua e os diretores foram eficientes ao imprimir a angustia de se sentir observado. Pedro é paranoico, sufocado, uma cidade que olha para ele do alto dos prédios.

Quando Pedro está nos shows online, desenvolve uma persona que, apesar da situação, não encontra válvula de escape. Ele parece estar sempre implorando por uma catarse. Algo que crie qualquer significado, algo  palpável.

A história se desenrola conforme o aparecimento e o desaparecimento de personagens importantes na vida dele. Viver para Pedro parece um esfarelar constante de todos.

Violência latente

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Os diretores não se preocuparam nem um pouco com o pudor dos espectadores. Longe de criarem cenas sexuais apenas pelo mero prazer de provocar o público, a trama se desenvolve esteticamente em um sentido de embate. Cedo ou tarde você sentirá incomodo com as cenas na tela.

A música acompanha a performance das cenas e faz par ideal com elas. Nos momentos críticos, o som cessa, ficando apenas os barulhos presentes dentro do universo do filme. É o ponto máximo de aproximação entre público e a história.

Existem experiências visuais na fotografia que agradam, sobretudo quando mostra a cidade vista de baixo para cima. É certamente um dos grandes chamarizes do filme.

Palavras finais

Longe de ser perfeito, Tinta Bruta peca em alguns detalhes. Por respeito à obra, decidi não aponta-los. Não quero viciar a experiência de quem decidir assistir ao filme.

Se quiser saber sobre o que esperar: espere por uma abordagem sincera sobre o abandono, a depressão e a angústia moderna. Um filme sem o conforto da lógica maniqueísta, sem mocinhos, sem bandidos. Sexo real, nudez e corpos expostos.

Não se trata de um filme panfletário, a história transita por assuntos que podem levantar a reflexão ou não, o que, em resumo, faz parte de um bom filme.

Disponível no circuito de filmes menos conhecidos, Tinta Bruta dificilmente chegará aos grandes Cinemas dos Shoppings. Mesmo assim, é experiência valiosa para quem gosta de testar os limites, vencer preconceitos e assistir a boas histórias.

Ponto importante para o cinema nacional de dois diretores que merecem a sua atenção.

Trailer: créditos Vitrine Filmes.

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