Crítica | The King (Netflix), diálogos, diálogos e diálogos

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The King é um dos lançamentos entre as produções originais da Netflix para 2019. O filme conta a história de Henrique V, que lutou a batalha de Azincourt em 1415, 2 anos após assumir o trono.

Embora os fatos históricos tenham relevância para os fãs mais aficionados pelos temas de cavalaria, em The King os responsáveis preocuparam-se mais na construção de uma história de tramas, mentiras, vinganças e assassinatos. Importando muitas estratégias dos melhores dias de Game Of Thrones, misturando com certos elementos de narrativa anti-herói.

O ótimo começo de The King

O filme começa em um ritmo excelente, inclusive, a primeira cena é do tipo que promete uma boa história e faz você prestar atenção, respirar fundo e pensar que finalmente estará vendo um ótimo filme.

São construídos personagens, aliados são apresentados, possíveis traições são instigadas, há toda uma montagem narrativa que pode ser deliciosamente desenvolvida. Você realmente fica com ansiedade pelo destino de tudo o que está acontecendo em tela.

Dura, no máximo, 20 minutos.

Depois, The King entra em infinitas conversas e mais conversas, e mais diálogos, e mais conversas

Sim, o filme foi pensado para focar na trama, nas batalhas internas do personagem principal e fazer com que o mundo exterior (as lutas e as tramas) fosse motriz para como ele se sente por dentro. É um filme centrado nele, no rosto dele, nas expressões e decisões dele.

Mas os produtores e a direção poderiam ter pesado a mão e eliminado pelo menos metade das cenas de pura conspiração.

Vou fazer uma pergunta sincera, você, como você gravaria uma conspiração? Veja bem, você tem um cenário, alguns personagens, uma história e uma câmera. Como fazer a lente da sua câmera captar conspirações?

Pois é, percebeu? Elas são difíceis de gravar, ainda mais se a sua estratégia for fechar 5 ou 6 personagens em um aposento e fazê-los conversar. Muito bem, pode funcionar da primeira vez, mas se você fizer isso por uma hora e trinta minutos, o público tem todo o direito de desligar a televisão, ou buscar outra coisa para assistir.

The King tem conteúdo, a história tem background e daria para ter feito melhor

Aqui vai uma “aula” de como uma cena ganha intensidade, é mais ou menos assim. Sempre que você sentir emoção ou perceber que os seus sentimentos foram alterados pelo filme, certamente aquela cena passou por uma maturação, que começou lá atrás. Há uma construção, que vai crescendo, até que vem a catarse. (set in, building, pay-off).

The King planta algumas sementes nas primeiras cenas, mata diversas delas cedo demais (digo sem medo de spoilers) e leva horas, literalmente horas, para trazer a catarse das outras.

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No fim, você fica com um filme absurdamente arrastado, que troca cenas e mais cenas de nada. Nada acontece na tela, apenas pessoas dando e recebendo conselhos umas das outras.

Conselhos na sala do trono, conselhos na escadaria do castelo, conselhos dentro do barco, conselhos no acampamento de guerra, conselhos antes da batalha, conselhos após a batalha, conselhos enquanto o filho do inimigo vem visitar.

Leva tanto tempo para você ter o pagamento por todo esse palavreado (as cenas de ação, o personagem sendo testado fisicamente, coisas que uma lente pode filmar) que eu realmente saúdo quem chegar ao final das mais de duas horas de filme.

Eu cheguei, pois é o papel do crítico/resenhista chegar lá, mas coitado de você que só está atrás de algumas horas de diversão e entretenimento.

O elenco em The King

Timothée Chalamet faz o Rei protagonista, ele está bem no filme, apesar do roteiro ser inteiramente injusto com o personagem. Faltou fisicalidade, mais oportunidades para que ele pudesse usar o corpo como forma de expressão, não necessariamente batalhas, mas é um Rei amarrado, aprisionado. Isso limita bastante a expressão.

Robert Pattinson também está no filme, ele faz um dos antagonistas, para ser mais especifico o filho do rei francês. Essa é a hora que eu devo pensar “vamos mexer nesse vespeiro? Ou não?”, bem, vamos…

O personagem de Robert Pattinson é ridículo. Veja bem o que eu escrevi, o ator é bom, seu histórico é consistente e ele tem um futuro cinematográfico que ainda poderá render muitos prêmios e menções honrosas. Mas, em The King, seu personagem é ridículo. Culpa do diretor? Que não limitou ou orientou melhor as ações do ator? Culpa do próprio ator? Que buscou soluções e alternativas esdrúxulas e até antipáticas para certas peculiaridades do seu personagem? Não sabemos, não participamos da produção, mas todas, todas as soluções encontradas para esse personagem, sobretudo em questões de expressão, trabalho de voz mesmo, ficaram ridículas, beirando o idiota.

Os outros membros do elenco merecem uma boa nota 4 (de 10), estavam lá, leram o roteiro, fizeram as caras, os rostos, tudo. Ninguém se sobressaiu, nem positivamente ou negativamente. Apesar dos nomes de peso, as atuações estão realmente amarradas.

Resumo, The King é bom?

Com diversas construções que não recebem a atenção devida, algumas delas até mortas prematuramente. Com personagens que não são inesquecíveis, e bons atores desperdiçados. The King, da Netflix, é um daqueles filmes para assistir apenas se o cenário todo de cavalaria lhe agrada. Foge da mesmice, apresenta um anti-herói e, com bastante esforço, mostra um arco de personagem bem construído.

Mas saiba desde já que praticamente tudo o que se passa no filme é resolvido por meio de conversas e mais conversas. Só isso, infinitamente.

Abaixo o trailer

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