Crítica | Submersão

Um filme de amor minimalista em que a trama acaba ficando em segundo plano

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Alicia Vikander e James McAvoy formam um casal extremamente atraente, isso já deve ser dito logo de saída. Ela está presente no filme “A Garota Dinamarquesa” e recentemente encarnou Lara Croft, substituindo Angelina Jolie, no filme Tomb Rider. Ele é conhecido por seu papel em Split, de 2016, e no maravilhoso O Último Rei da Escócia, de 2006.

Em Submersão a sexualidade minimalista do casal torna as cenas encantadoras e cria uma dinâmica entre eles muito agradável. Vikander interpreta Danielle Flinder, uma Oceanógrafa que está em fase preparatória para uma experiência/pesquisa, que, se for bem sucedida, poderá colocar o seu nome no hall da fama dos grandes cientistas.

Ele é uma espécie de agente secreto, eu digo isso pois o filme não foca exatamente no que ele faz (vamos falar adiante), que pretende investigar e desarticular uma célula do Estado Islâmico na Somália.

O ponto de encontro dos dois é uma pousada saída do sonho de um arquiteto romântico que passou muitos dias em um pub. Rústica, silenciosa, o lugar é uma experiência saudosista e até, em certos aspectos, etérea. Quase como um pedaço de irrealidade no intervalo entre dois mundos.

A construção arquitetônica do ambiente em que eles estão descansando torna o mundo algo leve, uma aparência que vai entrar em contraste direto com os tons carregados de tristeza das cenas futuras. As cores, as texturas e o volume das sombras prendem os personagens em um livro romântico sem melodrama.

Pois bem, o filme é de fato baseado em um livro e o diretor teve todo o cuidado do mundo para construir um relacionamento tão singelo e real que chega a ser quase palpável. As cenas em que eles estão juntos, interagindo e construindo essa relação, são simplesmente impecáveis, mas… o diretor gostou tanto, tanto desse relacionamento, que ficou por aí.

A narrativa do filme é construída misturando flashbacks dos personagens. Ele, preso pelo Estado Islâmico e sofrendo torturas, lembra-se dos diversos momentos com ela, que agora está imersa em sua experiência.

Qual é a grande questão? Após apresentar o casal, coloca-los juntos e demonstrar como eles estão apaixonados, o filme deixa de caminhar e apenas estaciona.

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As cenas de tortura, privação, dor, etc. vividas por ele, não tem, nem de longe, a profundidade psicológica das cenas de romance. Isso sem mencionar os antagonistas completamente unidimensionais que aparecem na vida de ambos (dele e dela), estão ali apenas para falarem coisas óbvias como “esqueça ele e foque na sua carreira” ou “Alá é grande, nós somos os certos, você é mal, blá blá bá”. Perdão, essa última fala não existe de fato no filme, mas as falas dos seguidores do Estado Islâmico são tão formulaicas e óbvias que flertam com a ofensa.

Veja bem, Wim Wnders não é ruim, “Paris, Texas” é testemunho da grande competência do diretor, entretanto, a impressão que eu tenho é que ele se apaixonou muito pelo projeto e quis fazer um filme focado apenas nesse romance minimalista de poucos momentos.

Um toque, um sorriso, uma troca de gracinhas, o filme faz muito bem essas cenas e repito, a química do casal é contagiante, contudo, quando ele aponta a câmera para a vida fora do mundo mágico nada acontece, tudo é extremamente previsível e os diálogos são, no melhor dos casos, aceitáveis.

A personagem Danielle ainda encontra alguns flashes de reflexão falada, sabe quando o personagem começa a divagar e filosofar, mas é só. Depois volta a fórmula, volta o básico e ficamos por isso mesmo. O filme também encaixa algumas referências artísticas, como a famosa obra de Caspar David Friedich (se não conhece pelo nome, conhecerá pela imagem acima, “o cara com o pé na mala”), mas não se desenvolve, mesmo com todo esforço artístico e estético o filme não respira longe do casal.

Que isso fique claro, filmes com cenas minimalistas, diálogos inteligentes e abordagens artísticas, devem ter um pulmão estabelecido pelo roteiro e pela montagem, que, sem apresentar certa coesão construtiva, acaba virando somente uma experiência visual ou intelectual. Eu não quero um filme apenas soltando frases pretensiosas acompanhadas de uma bela fotografia. Eu quero tudo isso inserido em uma ótima história.

Submersão, como filme de romance, é excelente, bem construído, com personagens atraentes e uma narrativa gostosa. Quando ele caí no thriller, aí os problemas aparecem e o filme perde todo o pulso.

Vale saber o que você quer ver no cinema. O filme estréia no dia 12 deste mês e eu te aconselho a ir assistir, pois, mesmo que não seja de todo incrível, a experiência faz valer o tempo.

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