Crítica | One of Us

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One of Us é um documentário original Netflix dirigido pela dupla Heidi Ewing e Rachel Grady. O filme acompanha Etty, Luzer e Ari, pessoas que tentam fugir do ambiente de violência, opressão, segregação e abuso da comunidade ultraortodoxa judaica hassídica de Nova Iorque. É muito importante ressaltar que esta comunidade específica preserva hábitos muito conservadores, intransponíveis e engessados. Seguem suas próprias condutas, regras e leis, e não existe a mínima possibilidade de interação. Ela não representa o judaísmo de maneira geral. E as diretoras acompanharam os processos dolorosos de separação dos protagonistas dentre deste cenário.

Etty, que tem 30 anos, viveu por muito tempo submissa ao marido e as regras, e teve 7 filhos. Nenhum por sua vontade. Óbvio que por seu instinto materno ela não quer separar-se deles, e em uma luta injusta no tribunal o resultado pode ser pior do que ela espera. Além de tudo, ainda sofre abuso moral e ameaças dos familiares do ex-marido.

Ari é um jovem contestador. Ele foi privado de tudo, inclusive do conhecimento básico do ser humano, como a matemática, por exemplo. Depois que resolveu sair da comunidade todos os seus amigos deram as costas, ele precisou aprender tudo do zero para conseguir de alguma maneira sobreviver. O vício em cocaína foi um reflexo da sua restrição à vida. Triste.

Luzer é aspirante a ator. Tentou inúmeras vezes conseguir papeis após se negar a continuar no judaísmo hassídico. Para sobreviver ele trabalha na Uber e vive dentro de um trailer. Também teve o direito de ver os dois filhos arrancado de si, e começa a lhe faltar a memória visual das crianças.

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A comunidade judaica hassídica possui escolas próprias, leis próprias, inclusive este mesmo grupo de pessoas que vive em Nova Iorque até adquiriram uma ambulância exclusivamente para atendê-los. A motivação desta exclusão da sociedade contemporânea é tátil, visto que esta é a maneira deles se auto blindarem da atrocidade que foi o holocausto. O que eles fazem é reflexo de uma história dolorida. Agora, a maneira que isto é feito, com certeza é inaceitável.

Lembram que citei que o judaísmo hassídico, não representa a religião no total? Nossos protagonistas deixam isso muito claro, e este é um ponto muito positivo do filme. São retratadas inúmeras vezes em que eles foram em reuniões, em sinagogas, em festas judaicas após o afastamento, visto que eles continuam com a fé. A discordância é evidente e clara quanto aos métodos.

É fácil dizer que 90% do documentário mostra apenas o que acontece/aconteceu com as três pessoas que saíram daquele meio. Os outros 10% são “depoimentos/respostas” de quem está lá e acredita em tudo aquilo. Poderia facilmente dizer que não ouvir o outro lado, é uma falha do filme. Porém deixo a pergunta: como uma comunidade machista, conservadora, segregadora, deixaria duas diretoras mulheres, entrar no seu ciclo para registrar alguma coisa?

One of Us é um relato importante e doloroso que deixa muito claro que o extremismo, seja em qualquer segmento, é destruidor. As vidas/pessoas que nele foram retratadas estão condenadas a tristeza, e mesmo que elas saiam e continuem lutando por sua liberdade, o trauma e a dor permanecerão para sempre.

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