Crítica | Never Let me Go, para rever ou descobrir

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Este mês Kazuo Ishiguro foi premiado com o Nobel de Literatura. Para ilustrar a beleza e a genialidade deste escritor, eu resolvi usar este singelo espaço no Cinerama para te apresentar ao Never Let Me Go. Um filme de 2010, dirigido por Mark Romanek, estrelado por um jovem Andrew Garfield e, acima tudo, obra de uma história inteligente e gentil. Um daqueles filmes que, se você tiver paciência o bastante, vai grudar no fundo da sua cabeça.

Ao contrário do que eu acabei de dizer, o filme não conta a história do Tommy – personagem interpretado por Andrew Garfield, mas sim a história de Kathy H. Ela atua como uma enfermeira para os doadores de órgãos. Chegando aos 30 anos, ela revisita toda a sua história. Reinterpretando diversos momentos vividos e criando questionamentos sobre o futuro.

Bleh, mais um filme sobre um adulto que sente saudade do passado? Sério mesmo? Nada original.

Não, sim, e muito não.

Em Never Let Me Go, Kathy é a personagem que representa um futuro tão distorcido e confuso quanto um bom episódio de Black Mirror poderia supor. Uma sociedade opressora, responsável por muitas portas fechadas e caminhos sem saída. Então, onde está a genialidade? No enfoque.

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O roteirista Alex Garland foi muito competente ao extrair do livro a sensação de que, na verdade, eles não estão aprisionados em um país autoritário. Estão aprisionados em suas vidas.

Aprisionados na existência de ser quem são

Durante vários momentos do filme você se pergunta “por que eles apenas não fogem, se escondem ou tentam alguma coisa mais decisiva??” A resposta é simples, cruel e dada com a calma de um dia frio. Porque eles são livres para fugir, para correr, para gritar, mas não existem caminhos ou gritos que te fazem fugir de si mesmo. Não existe escapatória para quem você é.

Never let me Go é um filme que se constrói como um jogo de quebra-cabeça. As peças são posicionadas pausadamente e você precisa fazer um esforço para ligar os pontos. As personagens vivem uma realidade familiar que vai descascando como tinta velha na parede. O resultado final é um retrato honesto sobre a saudade. Um foco de luz sobre a angústia e o autoengano.

O filme tem na Netflix. Eu prometo que se você separar uma horinha e quarenta minutos para ele. Vai terminar o dia com uma ótima história no seu repertório.

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