Crítica | Os Treze Porquês “13 Reasons Why”

0
Sob o clima atemporal de Reunion (M83), Bored (Billie Elish) e Fascination Street (The Cure), é possível reviver a história alarmante de Hannah Baker, numa espécie de loop do cinema para com o espectador comovido. Um efeito e tanto, bastante comum quando assistimos qualquer  boa série ou filme com trilha legal.
Pode parecer um cenário lúdico, envolvente, belo, comparado ao que logo surge em seriedade e trama. Trata-se da não rara situação do “tirar a vida”, a própria vida.
Assistida em etapas para processamento e em bom áudio e imagem para que a voz de Hannah não seja somente para Clay, a mais recente produção da Netflix colabora com um tema tabu e com uma razoável cinematografia. Fica até, por ora, desarmônico escrever uma espécie de crítica de algo que é da mídia do streaming, mas que aborda o que é tão social e polêmico perto de nós, a sociedade.
Mas é ok estarmos aqui nesta ínfima análise , já que pessoas do mundo da arte, que não são tão levadas a sério, tiveram a atitude de criar um roteiro de suspense dramático , para apresentar em uma série o suicídio de uma garota. E assim mostrar, através desta série a personalidade e comportamento, a construção social, o estopim  da mente e do sentimento. Pelo menos, é o que se sabe ser o que “contribui” para um indivíduo chegar à escolha de não suportar mais. Como foi a de Hannah em 13 Reasons Why.
Sem precisar focar na já conhecida perturbada vida escolar de um adolescente, a série já pula esta parte e nos adianta o que interessa. Que algo sério aconteceu. Que não é brincadeira. Que não é somente fazer mais um seriado para o catálogo e para dar joinhas na tela.  A forma como é contada a história de Hannah, torna possível a quem assiste a aproximação com Clay e o que ele, somente ele, tem que “lutar” para não ser em vão seu amor pela garota. Gravações em fitas cassetes como se fosse um diário arquitetado, abrem caminho para descobrir que havia grande disposição de Hannah em apontar suas pequenas tragédias sociais.
Posts relacionados
1 De 154
Ao longo dos 13 episódios, vai se desintegrando a rede para a queda de Hannah. Somos tocados pela falta de persistência e autoconfiança de uma jovem. A jovem que “dá a última oportunidade ” de seguir com a vida, a um especialista que jamais notaria que a tal garota estaria pensando num suicídio. Nesse diálogo entre Hannah e o conselheiro da escola, há uma característica que há de se odiar nos filmes e séries – a quebra de falas. O gaguejar dos personagens que não o deixam dizer por completo o que querem, e aí fica subentendido que a jovem estava sofrendo e pedia ajuda. Nas conversas da não ficção, isto pode não parecer forçado, mas afinal a pessoa nunca iria falar com todas as letras o que pretenderia cometer.
Ao longo dos relatos de atitudes insensíveis e demolidoras da perspectiva mínima de Baker, o que resta a ser feito é justificar, corrigir, ameaçar, expor, tudo encarregado por Clay.  Parece irônico produzir um roteiro de combate levantando soluções vingativas, mas afinal a série se baseia somente na perspectiva de Hannah, o que causa desconfiança.
 Ainda que se ache o conceito do roteiro dramático demais, ou inocente demais, não deve-se deixar de lembrar do fatídico. Acredita-se que pra situações como a de Hannah, há soluções profundas e especiais. Ter Jesus ou certa crença como centro se sua vida; se acalentar no poder milagroso da música; tratamentos reais terapêuticos; conversa boa ; e , o mais importante, se conhecer. Baker teve dificuldade em se conhecer e determinar que as pessoas falham, e sempre vão. E que assim é a vida. Por outro lado, não há como culpa-la. Tome-se como exemplo a série. Grande projeto midiático, necessário, feita para que não se culpe pessoas como Hannah Baker.
Porém, assim como o Alex, da série, é tão realista e carregado do peso da vida e de consciência, é de se observar o que também é realista – o êxito para impedimento de um suicídio pode ser um caminho que muitos não estão atentos. A série mostra isso. Até que alguém perceba, o dano já afetou .
Mas ainda que o tema abordado seja de peso, de certa forma até difícil de ouvir e falar, a série já tem alcançado um grande público em menos de 1 mês de lançamento. Ainda que, pelo lado social, 13 Reasons Why tenha pequenas falhas e tenha exaltado a questão de uma “vingança”; pelo lado cinematográfico houve uma feliz seleção para a soundtrack melódica e reveladora dos adolescentes e jovens pós modernos. Hits como Love will tear us apart (Joy Division), Hey hey, my my (Neil Young),  mixam a melancolia com o estilo post pop, um cool adolescente de bandas indies atuais.  Doing it to death (The Kills), Reunion (M83), Run boy run (Woodkid), Bored (Billie Elish) e Into the Black (The Chromatics).
Deixe um comentário