Crítica | Luta por justiça – A batalha contra o racismo disfarçado de justiça

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O cinema é feito, muitas vezes, de protagonistas e antagonistas que travam uma batalha árdua, até que reste somente um. Existe um antagonista, que a Sétima Arte sempre apresentou em sua forma mais cruel e visceral: A Injustiça. E, é esse o oponente que o personagem de Michael B. Jordan enfrenta no filme Luta por Justiça; um longa-metragem que aborda a temática do racismo enraizado no sistema penal do Sul dos EUA em meados dos anos 1960.

Sinopse Luta por justiça:

Bryan Stevenson é um advogado recém-formado em Harvard que abre mão de uma carreira lucrativa em escritórios renomados da costa leste americana para se mudar para o Alabama e se dedicar a prisioneiros condenados à morte que jamais receberam assistência legal justa. Ao chegar lá, Bryan se depara com o caso de Walter McMillian, um homem negro falsamente acusado de um assassinato, mas que nunca teve uma defesa apropriada por conta do preconceito racial na região.

O longa é baseado numa história verdadeira, contada no livro “compaixão: uma história de justiça e redenção” escrito pelo advogado Bryan Stevenson, protagonizado no filme pelo ator Michael B. Jordan.

Eu tenho um sonho. O sonho de ver meus filhos julgados por sua personalidade, não pela cor de sua pele” essa famosa citação dita pelo ativista político Martin Luther King, simboliza com exatidão os conflitos que o protagonista Bryan Stevenson enfrenta no filme Luta por Justiça. O longa é um recorte cruel e realista sobre como o racismo é o grande peso que desequilibra a balança da justiça.

O roteiro adaptado é escrito por Andrew Lanhan (roteirista do filme A Cabana) e Destin Daniel Cretton (cineasta que trabalhou no filme O castelo de vidro).

Desde a cena inicial, até a cena final, os roteiristas acertam em construir uma trama que disseca toda a história do personagem secundário Walter McMillian (interpretado por Jamie Foxx). O longo constrói um personagem, que a princípio não acredita mais na justiça, mas que ao longo da projeção vai se desconstruindo e abraçando um fio de esperança que seu advogado lhe concede.

Outro grande acerto do roteiro foi apostar na sincronia entre Jamie Foxx e Michael B. Jordan. Juntos, os atores são uma explosão de atuação. Ambos possuem uma força tão verdadeira e natural em cena, nos fazendo, ora sorrir, ora chorar, sem apelar para algo fora de tom ou para o melodrama, respectivamente.

O único crime do roteiro está em algumas cenas expositivas, que se repetem em diálogos ou jargões do ambiente no qual o filme está inserido; cenas que, apesar de uma abordagem diferente, possuem a mesma mensagem.

A mão de Destin não está apenas no roteiro; ele também é responsável pela direção do longa. Sabendo extrair o melhor de seu elenco, o cineasta transforma cenas pequenas e silenciosas, em situações desconfortáveis, nos deixando impotente mediante os erros da lei; é como se você estivesse ao lado daqueles personagens, querendo gritar “PARE!”, mas ninguém lhe escuta.

Michael B. Jordan (que atuou em Creed: Nascido para Lutar) é a alma do filme, despertando no telespectador tudo o que seu protagonista passa. Com uma atuação impecável, é difícil escolher um grande momento dele durante a projeção. O olhar do ator reflete muito bem os altos e baixos que seu personagem enfrenta: medo, coragem, esperança e, acima de tudo, sede por justiça.

Se Michael B. Jordan é a alma do filme, sem sombra de dúvida, Jamie Foxx é o coração! Seu personagem — Walter McMillian — transmite com simplicidade, toda a destruição que a injustiça causa em um indíviduo. Atormentado no Corredor da Morte, tendo seus direitos constitucionais violados e após passar pelas mãos de advogados ineficazes, o personagem vai, pouco a pouco, evoluindo dentro e fora da cela que o aprisiona. Entretanto, a verdadeira cela que ele precisa superar é aquela que sistema penal colocou em sua cabeça, encarcerando sua perseverança. Uma performance digna de uma indicação ao Oscar, que infelizmente não aconteceu, mas que foi reconhecida pelo Sindicato dos atores de Hollywood (SAG Awards).

Brie Larson dá o melhor de si em uma atuação competente. Todavia, seu papel é minimizado por uma participação rasa. Nem mesmo os diálogos da personagem, nos momentos chaves da narrativa, conseguem dar a importância que a personagem merecia. A impressão que fica é que qualquer um poderia ter dito aquilo. O que é uma pena, pois o filme não soube aproveitar o talento de sobra que a atriz tem.

Uma cena protagonizada por Rob Morgan (que trabalhou no filme Mudbound – Lágrimas Sobre o Mississipi) fez todo o cinema chorar. Mesmo aparecendo pouco, é notável seu trabalho de construção de personagem. Uma interpretação visível na expressão corporal e vocal do ator.

As escolhas visuais feitas pelo diretor de fotografia Brett Pawlak aproximam o público da narrativa de forma primorosa. Enquadrar os personagens, de modo que podemos vislumbrar suas expressões indignadas e a troca de olhares que dizem muito mais que longos diálogos, transforma a fotografia num elemento fundamental para que o telespectador possa sentir a mensagem abstrata que é desenhada na tela. Em um determinado momento do filme, a fotografia de Brett utiliza o contraste social que existe no Alabama; pelos olhos do protagonista, que está ao volante, podemos observar a desigualdade social e a separação das classes pela cor da pele. Um retrato sobre a discrepância que existe entre a comunidade humilde e a vizinhança elitista.

Submetendo-se ao vexame, a descriminação e ao medo, um advogado visa a liberdade dos injustiçados. Nada é capaz de derrubar o espírito justiceiro de um protagonista que abraça tudo o que tem e continua seguindo em frente, mesmo que a derrota grite em sua face.

Luta por justiça é um filme que precisa ser assistido e sentido. É o cinema verídico mostrando que a nossa realidade é o habitat natural de um monstro chamado Injustiça; um monstro, que às vezes, é alimentado pela intolerância de homens que deveriam fazer acontecer os direitos básicos de um cidadão.

Assista ao trailer:

Veja também: Crítica | Maria E João – O Conto Das Bruxas.

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