Crítica | Kursk – A Última Missão

0
“The Command”, nome original da produção, é um thriller dramático dirigido pelo dinamarquês Thomas Vinterberg baseado no livro “A Time to Die”, de Robert Moore, que conta a história de Kursk, o submarino russo que, apesar de ter sido considerado “inafundável”, naufragou em decorrência de uma explosão interna.

Em “Kursk – A Última Missão” o ano é 2000 e, durante um exercício naval da Marinha russa no congelante Mar de Barents, uma explosão naufraga o submarino K-141 Kursk. A embarcação tinha uma tripulação de 118 homens e tinha sido batizada em referência a uma das maiores batalhas da Segunda Guerra Mundial: a Batalha de Kursk, em 1943. Da tripulação, 23 sobreviventes da tragédia esperam desesperadamente por ajuda enquanto tentam resistir às condições extremas as quais são colocados à prova. Durante todos os dias de terror, o caso toma proporções gigantes e conhecimento mundial à medida que o tempo dos marinheiros começa a se esgotar e o próprio governo russo, por descaso, falha em suas tentativas de resgate e, ao mesmo tempo, nega a ajuda mais competente de outros países.

“Kursk – A Última Missão” é muitas coisas. É um filme sobre a triste história real de marinheiros que esperaram esperançosos por uma ajuda que nunca veio. É um filme que traduz todo o sofrimento das famílias e amigos dos envolvidos no acidente. É uma batalha política nos bastidores mundiais que, infelizmente, se sobrepôs à importância das vidas que estavam se afogando. No entanto, “The Command”, no original, é, sobretudo, um filme sobre o tempo. Desde a primeira cena do filme, onde se é cronometrado o tempo que o jovem Micha ficava sem respirar, desde a venda dos relógios de marinheiro da equipe em um ato simbólico no começo do longa, até a corrida contra o próprio tempo que eles tinham para que suas vidas fossem salvas.

O roteiro de Robert Rodat e a direção de Thomas Vinterberg são essenciais para o bom e fluido desenrolar da trama e ditam o tom que a produção deseja entregar. O clima de constante tensão e de suspense são complementados por momentos em terra nos quais as esposas dos envolvidos exigiam respostas de um governo omisso e desrespeitoso, ao mesmo tempo em que a ajuda de outros países era negada por puro ego e os 23 sobreviventes batalhavam para se agarrar à qualquer fio de esperança e de oxigênio que estavam ao seu alcance, sem, porém, abandonar o companheirismo que a equipe tinha entre si e o amor que nunca deixariam de nutrir por quem já havia falecido e por quem eles nunca reencontrariam. O trabalho com o desenrolar da história e com o elenco e os objetos de cena são inseparáveis e conseguem transmitir ao espectador toda a ansiedade, toda a angústia, todo o medo e toda expectativa vivida por cada personagem em cena, de modo que não podemos evitar de sentir desgosto com as atitudes do governo russo para com esse assunto e compaixão por quem ainda esperava que houvesse alguma chance.

Posts relacionados
1 De 283

“Está escuro aqui para escrever, mas vou tentar pelo tato. Parece que não há possibilidades, 10-20%. Vamos torcer para que pelo menos alguém leia isto. Cumprimentos a todos. Não há necessidade de ficarem desesperados (…) Há 23 pessoas aqui. Tomamos essa decisão porque nenhum de nós pode escapar. Estou a escrever isto às escuras.” — Capitão-Tenente Dmitri Kolesnikov. A carta, apesar de dirigida à família, é a única prova existente de que houve 23 sobreviventes às duas explosões que destruíram grande parte do submarino e serviu como base para diversas investigações e para o consequente “A Time to Die” de Robert Moore que, por sua vez, serviu de base para “Kursk – A Última Missão”.

O filme é forte na maioria de seus aspectos e oferece o que já é de se esperar em obras deste tipo. O potencial dramático do longa nos envolve, principalmente ao contar uma história trágica derivada do orgulho russo e sua incapacidade de reconhecer os próprios erros. Em “Kursk – A Última Missão”, a batalha política e a inventiva e constante necessidade de proteção de segredos nacionais selou o destino dos marinheiros que deram sua vida por seu país em troca de um tratamento inconsequente e egoísta das autoridades.

“Kursk” é impactante e revoltante. A trágica história real adaptada para as telas consegue tocar o espectador e alcançar tudo o que pretende. Os atores acompanham o nível da produção e entregam performances dignas, principalmente quando vemos, em uma gradação, o fio de vida lentamente se esvaindo de seus corpos durante o filme. A produção da EuropaCorp, distribuída no Brasil pela Paris Filmes, é simbólica e tem muita qualidade, sendo, certamente, um excelente filme para iniciar o calendário de 2020.

Assista ao trailer:

Deixe um comentário