Crítica | Jojo Rabbit – Uma sátira a um dos períodos mais sombrios da História

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Indicado ao Oscar em 6 categorias, incluindo a de Melhor Filme, Jojo Rabbit, de Taika Waititi, é anunciado como uma “sátira anti-ódio”, especialmente pelo fato de ser uma comédia sobre Adolf Hitler e sobre o nazismo, e traz em seu elenco nomes como Scarlett Johansson, Sam Rockwell e Rebel Wilson.

Adaptado livremente do romance “Caging Skies”, de Christine Leunens, “Jojo Rabbit” se passa na Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial e segue um jovem nazista alienado e solitário que tem Adolf Hitler (Taika Waititi) como um amigo próximo em sua imaginação. Com o sonho de participar da Juventude Hitlerista, grupo pró-nazista de crianças e adolescentes, e de lutar por seu exército, Jojo (Roman Griffin Davis), protagonista do longa que dá nome ao filme, assiste sua visão de mundo ficar de cabeça para baixo ao descobrir que sua mãe (Scarlett Johansson) está escondendo uma judia (Thomasin Mckenzie) em sua casa. Tendo que enfrentar seu nacionalismo cego e um grande dilema envolvendo toda a situação e sua lealdade, Jojo consegue contar apenas com seu amigo imaginário enquanto vê a guerra se desenrolar e as consequências da mesma acontecerem.

Telespectadores familiarizados com a carreira de Taika Waititi e que acompanharam seu modo de contar histórias em filmes como “O que Fazemos nas Sombras” (2014), “Fuga para a Liberdade” (2016) e “Thor: Ragnarok” (2017), todos com uma clara e ácida verve cômica, com certeza se interessarão pelo que o diretor irá fazer agora com o seu recente “Jojo Rabbit”. Uma comédia realmente engraçada sobre nazistas? Com certeza. Contudo, o filme é também muito sério. Utilizando sua origem Judaica e Maori, Waititi constrói uma comédia para debochar e zombar do nazismo e performa um Hitler intencionalmente patético. Uma grande e bela ironia como pano de fundo para o objetivo do longa de demonstrar, em meio a risadas, os absurdos do período e os perigos que nacionalismos cegos e líderes extremistas e preconceituosos podem fazer aos povos.

A proposta do filme é ousada e, à primeira vista, pode soar até um pouco insensível para certas pessoas. Contudo, esse é a finalidade primordial da produção de Taika Waititi: levar tudo ao extremo e satirizar aqueles acontecimentos de tal forma que é evidenciada a crítica por detrás do cômico. A utilização de um protagonista de 10 anos de idade que é um grande defensor do nazismo e de tudo o que o envolve, a inclusão de Adolf Hitler na trama como um amigo imaginário de Jojo e a caracterização de Taika Waititi como o ditador alemão. Tudo é cautelosamente construído para beirar o estúpido e o idiota, e consegue. Hitler é completamente ridicularizado, assim como o Partido Nazista e todas as suas práticas. Até o cumprimento “Heil Hitler” vira chacota e rende boas risadas. O filme tem um objetivo claro e o alcança de maneira espetacular. Tudo na Alemanha nazista vira piada e sinônimo de um grande deboche.

Jojo é o caminho para todo o planejamento de Taika Waititi para o filme. A visão de mundo do jovem garoto e a maneira que ele enxerga o regime alemão e se porta frente a tudo é imprescindível para a narrativa que se deseja contar. O personagem interpretado de forma maravilhosa por Roman Griffin Davis é o retrato do nazismo alemão e, após receber seu apelido de Jojo Rabbit ao se recusar a quebrar o pescoço de um coelho no acampamento da Juventude Hitlerista, tem um desenvolvimento bastante profundo a partir do momento que tem contato com a judia abrigada por sua mãe. A interação entre os dois faz o filme fluir e a química e a dinâmica entre Roman e Thomasin são responsáveis por grandes momentos dramáticos do filme e contribuem para a história de amadurecimento em meio a um dos maiores horrores que a humanidade já enfrentou.

O texto de Taika Waititi explicita a lavagem cerebral nos jovens, o modo absurdo como os judeus eram retratados, a hipocrisia do governo nazista e toda a violência do período em questão, utilizando, para isso, uma narrativa engraçada e um tom mais leve. A sátira, no entanto, não esconde em momento algum a grande crítica realizada pelo diretor e intérprete de Hitler. “Jojo Rabbit” é inteligente, humorado e, ao contrário do que possa parecer, enfatiza todos os horrores históricos, e não os diminui. O filme é um grande acerto e, ao discutir sobre um tema sério como o nazismo em uma comédia, torna-se uma produção que ficará marcada na história cinematográfica por sua narrativa diferente da usual e por todas as reflexões acerca do tema que provocará.

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