Crítica | Eu, Tonya
Se você já assistiu ao documentário Amy, provavelmente fará muitas assimilações com Eu, Tonya. Afinal, em nenhuma destas histórias as pessoas ao redor de Amy e Tonya as ajudaram a superar suas dificuldades, seus medos. Ambas foram abusadas pela família, por maridos e por nós, público.
Eu, Tonya é o longa metragem dirigido por Craig Gillespie (Hora do Espanto 2011, mas não se assuste com isso) e estrelado pela bela Margot Robbie, que já estava associada apenas a personagem Arlequina (também esqueça isso), que interpreta Tonya Harding, garota que desde a infância tinha a paixão pela patinação no gelo. Paixão que levou sua mãe a submetê-la a treinos exaustivos, abusivos e sem nenhuma piedade, com a esperança de torná-la famosa.
O roteiro escrito por Steven Rogers segue a linha do docudrama, que mostra de maneira mesclada entrevistas dos personagens contando como os fatos ocorreram. Narra de maneira linear a infância, uma breve adolescência e a conturbada fase adulta que foi da fama ao fundo do poço em pouquíssimo tempo.
Eu, Tonya é um filme marcado por interpretações poderosissímas, a começar por Margot Robbie, que tem aqui a melhor atuação da carreira. Ela faz uma Tonya carregada por traumas e abusos mas mostra-se forte e determinada quando entra em competições. É desafiadora mas também frágil quando depara-se com um homem violento com o qual teve um relacionamento totalmente instável. Outra que dá um show é Allison Janney que interpreta LaVona Harding, mãe de Tonya. É uma mulher fria, dura, sem compaixão alguma e que tem as melhores tiradas cômicas do filme (dêem o Oscar para essa mulher!). Fechando o trio protagonista está Sebastian Stan, que faz o marido Jeff Gillooly, homem que seduziu Tonya na adolescência, casou-se e abusou fisica e psicologicamente da esposa, além de ser um dos responsáveis por causar a desgraça na carreira profissional dela.
Muito mais do que contar a história de uma atleta olímpica que teve a carreira ceifada por todos a sua volta, Eu, Tonya vai muito mais a fundo do que isso. É um filme sobre abuso infantil, machismo, violência doméstica, espetacularização na mídia, omissão da polícia (reparem em uma cena específica com Tonya e Jeff dentro do carro, que fala muito por si). E é um filme que, tirando as pitadas cômicas bem encaixadas, é cru e doloroso.
Por tratar-se de uma produção de baixo orçamento (US$ 11 milhões) ele peca em alguns quesitos técnicos. Algumas apresentações de Tonya Harding no gelo fica evidente o uso (e um uso) ruim de tela verde ao fundo. Percebe-se que não houve um tratamento melhor nos efeitos visuais. Outro ponto é a maquiagem que não convence quando coloca os atores na adolescência. Aquilo não te convence que são jovens. Apesar disto, o filme conta com uma boa retratação de época nas décadas de 80 e 90. Vale ressaltar que Margot Robbie também é produtora do filme! A trilha sonora é deliciosamente bem encaixada com canções do Dire Straits, Bad Company, Eminem, Supertramp, ZZ Top (e muitos outros), que além de serem músicas famosas falam muito sobre a personalidade de Tonya.
Muito mais do que estes pequenos probleminhas, Eu, Tonya é um filme importante que possui interpretações excelentes, um roteiro forte e um alerta gigante sobre muitos problemas que talvez eu e você enfrentemos calados em casa, tenha sido na infância ou agora na fase adulta.
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