Era Uma Vez em Hollywood o nono filme dirigido e escrito por Quentin Tarantino, é de fato sua obra mais cultural e íntegra que seus fãs estão presenciando. O cinema para Tarantino se pauta em uma lógica diferenciada, ainda que muito mais aprofundada, de resgate às referências e alguns easter eggs. O diretor nos deixou claro que o seu filme precisa ter o cinema bem presente para fazer o cinema – se em todos os filmes de Quentin Tarantino ele demonstra seu afeto pela sétima arte, no seu novo longa ele a torna mais evidente possível numa visão hollywoodiana nos anos 60.
Quentin mostra desde Cães de Aluguel que não se preocupa em agradar aos críticos, ou seja, o seu novo filme traz características como diálogos longos, um roteiro humanizado e simbólico aos personagens, enfim tudo o que existe no mundo do diretor passando de um ângulo diferente. O filme é a vingança das vitimas de um assassinato crucial. A versão da mente de Tarantino, do que ele adoraria que tivesse acontecido com os assassinos já vistos em vários filmes de sua autoria como Bastardos Inglórios pelo belo fim dos nazistas e seu líder Adolf Hitler merecendo a morte num cinema em chamas.
Para os fãs que ainda não viram Era Uma Vez em Hollywood, dou uma dica: se interessem mais sobre a história do cinema principalmente entre os anos 60 e 70 e, o trágico caso sobre Sharon Tate, porque é essencial para entender a narrativa do contexto e o que acontece no ambiente. O filme torna à reflexão sobre pessoas na indústria cinematográfica que passaram por tragédias e desilusões, algo voltado ao senso humano sobre dar moral ao culpado e acabar deixando de lado as vitima. No caso de Tate seu assassino foi Charles Manson – ao que diz ter ficado muito famoso pela ação – porém, no filme não existe espaço para ele, talvez a mensagem tenha sido clara do diretor como se fosse para dizer “Não há espaço para um sangue frio egocêntrico na história”.
Começando por Rick Dalton (Leonardo DiCaprio),o astro em ascensão, ou talvez uma pessoa que tem seu contraste de um artista inseguro e duvidoso. A maturidade desenvolvida por DiCaprio é de se impressionar ele nos reflete como um ator hollywoodiano é visto e como ele é realmente. Suas cenas, expressões hilárias e perfil aborda uma pessoa que pode se tornar o que ela quiser na indústria do cinema não é uma tarefa fácil de ser feita.
Por outro lado, temos Cliff Booth (Brad Pitt) o dublê de Dalton que nos mostra o lado da negação hollywoodiana. Como um cara bonito, talentoso e carismático pode ser apenas um dublê? A questão é seu passado sombrio que o remeteu no presente e suas escolhas, com certeza a atuação entre DiCaprio e Pitt teve sintonia.
Sharon Tate (Margot Robbie) uma mulher em contrapartida um lado humano e inocente hollywoodiano, seu amor e afeto pelo cinema a tornam uma personagem que o foco é apresentar singelas homenagens tanto à atriz como Hollywood. Um breve agradecimento ao diretor de fotografia que focou muito bem em cada personagem e o que eles significam no filme e no espaço em que vivem, mas com uma melancolia inesperada e bem-vinda.
A ambientação no cenário de Los Angeles é algo ótimo com suas cenas obscuras fragmentadas, filmes da época e as locações. Por mais que seja uma obra muito criticada como fraca o filme nunca perde sua diversão.
Era Uma Vez em Hollywood finalmente é uma obra que fala muito por si só do amor de Quentin Tarantino em relação à sétima arte. Por mais que a história leve quase três horas de duração, ele continua trazendo novos personagens marcantes e com eles o entretenimento. Vemos de tudo um pouco do riso fácil, aos diálogos elaborados, a abordagem hollywoodiana, a violência explícita e por fim as referências/autorreferências. A sua metalinguagem de perspectiva e juntamente coma trilha sonora seguem de mãos dadas e merecem ser reconhecidas, de todos os fatores o novo filme de Tarantino deixa a realidade escapar para assim podermos encara-la.
O objetivo final é simples: pequenas histórias em Hollywood que se tornem uma homenagem aos filmes daquela época com personagens fictícios e reais. Quando for assistir a esse filme apenas procure a diversão e não o lado crítico. Não existe a fantasia estampada que é a marca posta, por isso ele se torna algo sério e um “filme fraco de Quentin Tarantino” ele se controlou para tornar o mais real possível à história.