Crítica | Bingo: O Rei das Manhãs

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As pessoas com mais de 30 anos normalmente falam que: “na minha época era melhor, no meu tempo as coisas não eram assim”. Provavelmente este é o medo de envelhecer e não se adaptar ao novo. Porém uma única coisa que jamais será igual é a programação infantil da tv brasileira dos anos 80 e ínicio de 90. E neste ponto chegamos em Bingo: O Rei das Manhãs.

É a história real de Arlindo Barreto que interpretou o palhaço Bozo na emissora SBT. A história acompanha o pai amoroso, os desafios de entrar em uma grande emissora, o ascensão e a queda devido ao intenso vício em drogas.
A direção é de Daniel Rezende, que trabalhou como editor em Cidade de Deus. Bingo é seu primeiro longa e mesmo com experiência em cinema ele convocou uma equipe de peso: Luiz Bolognesi assina o roteiro e Lula Carvalho a direção de fotografia. E com esse time e a ousadia demonstrada por Daniel o resultadao é excelente!
Vladimir Brichta interpreta Augusto Mendes/palhaço Bingo, e a sua atuação é digna de abrir portas para o ator no mundo todo. Seu personagem tem muitas camadas: o ator em decadência, o pai amoroso, o palhaço em ascensão, o ser humano em queda e a redenção.

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Bingo é o exemplo de filme que é muito bem escrito sendo o roteiro o ponto alto. Tudo tem importância, tem origem, tem desenvolvimento e você realmente cria afetividade com o que está vendo na tela. O elenco de apoio funciona e todos estão bem: Leandra Leal faz o de sempre que é nada menos do que excelência na atuação como a produtora/diretora Lucia, Emanuelle Araújo vive a Gretchen, Tainá Muller a ex-esposa de Augusto, Ana Lúcia Torre é Marta Mendes mãe de Augusto, além de uma participação muito especial de Domingos Montagner como o palhaço de circo que ajudou Augusto no desenvolvimento de Bingo.
A reconstituição de época é cuidadosamente pensada desde os cenários externos do centro de São Paulo, até o cenário do programa. O figurino muito bom e a fotografia é ótima. No último ato tem um plano sequência (você sabe que foi algum truque da direção/direção de fotografia porém impecável) que é digno de aplausos.
Bingo: O Rei das Manhãs é o melhor que o cinema nacional pode ser, bem executado tecnicamente, um roteiro excelente, atuações firmes e competentes, sem clichês baratos (e olha que para trilhar esse caminho mais fácil, o diretor tinha um prato cheio em mãos e não fez). É saudosista para quem viveu a Era Bozo, e é a melhor maneira de mostrar como era intrigamente a programação das crianças no passado para a nova geração.
No final tem uma justa e singela homenagem para Arlindo Barreto, sem alegorias ou demagogias.

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Antes de assistir o filme, li e vi muita gente falando que este era o melhor filme nacional desde Cidade de Deus (falando do cinema de longo alcance, tirando o cenário independente da parada), e pensei que as pessoas pudessem estar exagerando. Felizmente não era exagero e você ficará com Bingo na sua mente por muito tempo e arrisco dizer que ele não sairá mais.
Viva o cinema nacional!

Trailer:

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