Crítica | A Vida Invisível (2019)
Nos anos 1950, as irmãs Eurídice e Guida Gusmão são extremamente unidas apesar de suas personalidades opostas: Eurídice é uma tímida musicista e Guida é mais expansiva. Ambas vivem sob o teto de um pai muito rígido em uma sociedade patriarcal, e por esse motivo Eurídice precisa dar cobertura para que a irmã se encontre escondida com seu namorado grego. Guida decide partir do Rio de Janeiro para a Grécia com seu namorado, deixando a família para trás. Nesse intervalo de tempo, Eurídice se casa enquanto Guida volta para casa grávida e desiludida com seu namoro que não virou casamento. O pai das meninas, desgostoso com a ideia de ter um neto bastardo, mente que Guida continua na Grécia para Eurídice e diz para Guida que Eurídice foi estudar piano na Áustria. A partir daí há um desencontro entre essas duas irmãs que comove o filme inteiro, pois uma sente profundamente a falta da outra.
O trunfo do filme é certamente a direção e as duas atrizes principais, que estão excelentes. Karim Ainouz é muito poético e sensível ao retratar o universo feminino e consegue realizar um melodrama da melhor qualidade, sem firulas e muito mais trabalhado no não-dito. As duas atrizes, por sua vez, estão geniais e é nítido que ambas deram tudo de si para os papéis que interpretam em A Vida Invisível.
O principal tema que o filme trabalha e faz questionar é sobre o machismo estrutural, não só dos anos 50 mas também de hoje em dia. E o longa-metragem faz isso de forma belíssima e universal, sendo inclusive muito subliminar.
Entretanto, o desfecho da obra é muito apressado. O ritmo lento do filme se descompassa na cena final que foi um tanto corrida. Fernanda Montenegro não se entrega tanto ao papel quanto a Carol Duarte e a Julia Stockler e isso destoa um pouco do que estava sendo construído. Além de que é um tanto desconfortável saber que uma obra tão uterina foi dirigida por um homem, e, apesar de ter feito um trabalho impecável, é necessário que mais mulheres ganhem voz para falar de si mesmas.
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Indicado para ser o representante brasileiro na corrida do Oscar 2020, A Vida Invisível estreia dia 21 de Novembro nos cinemas nacionais.
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