Crítica | A Mula
Clint Eastwood volta na direção de um drama policial na pele de Earl Stone, um senhor que dedicou sua vida à seu trabalho nas estradas e na floricultura, sempre colocando isso acima de tudo, incluindo sua família que sofreu com sua ausência durante anos. E é justamente nesse drama familiar que nasce The Mule.
Earl, sem ter para onde ir, decide colaborar com o esquema de tráfico de drogas local liderado por latinos e se torna o que chamam de mula – quem transporta a carga. A medida que o dinheiro fácil cresce, Earl começa finalmente a sentir culpa por ter sido tão ausente com sua família, já que somente sua neta ainda se importava em vê-lo. A relação de Earl com sua família é basicamente o que sustenta o drama do filme, todas as discussões com sua ex-mulher, Mary (Dianne Wiest), e a rejeição de sua única filha moldam o protagonista e mostra que, por baixo da casca de durão e “velhinho tarado”, existe um homem triste e vazio que não acredita que ainda há tempo para reatar as relações com sua família.
Infelizmente, talvez pelo foco nas tramas e subtramas envolvendo o tráfico e o apelo cômico, este arco que torna o enredo mais interessante ficou em segundo plano para dar espaço aos conflitos principais envolvendo personagens latinos bem caricatos. Earl ainda é uma figura de mente fechada, ingênuo e com dificuldades de se ajustar ao panorama atual com celulares e a internet, mas isso vai bem mais além. É até com certa ingenuidade que Earl profere frases de cunho racista, afinal, o preconceito é algo esperado para um veterano de guerra que mora numa parte predominantemente branca a qual tem problemas com o povo latino.
Porém, os aspectos subjetivos de Earl refletem na narrativa já que temos a propagação de um estereótipo de latinos que se igualam na fala, no comportamento e até na aparência, e temos também a sexualização de figuras femininas numa cena que não agrega nada ao roteiro a não ser o constrangimento de quem assiste. Aliás, essa sexualização é bem presente em filmes do gênero; não só isso como falas machistas do tipo “vai virar mulherzinha na cadeia” estão presentes aqui proferidas por Colin Bates (Bradley Cooper) que lidera o arco policial um tanto cansativo e até desconexo com o arco principal que só cumpre seu propósito lá pelo terceiro ato.
Apesar de construir uma mensagem bonita sobre a valorização da família e do tempo, o longa tem vários deslizes como cenas muito convenientes e reviravoltas sem sentido que, posteriormente, mesmo que isso afete drasticamente a narrativa, acabam sendo deixadas de lado.
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