Crítica | “The Post – A Guerra Secreta” narra um dos momentos mais exitosos do jornalismo internacional

Meryl Streep e Tom Hanks entregam as atuações mais competentes do ano!

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Em 1971, Daniel Ellsberg, analista do Pentágono (sede do Departamento de Defesa dos Estados Unidos) retirou, clandestinamente, uma série de arquivos ultra-secretos, contendo 14 mil páginas, distribuídas em 47 volumes, das quais provavam a real situação americana sobre a Guerra do Vietnã. De posse dessa documentação, Ellsberg tomou uma importante decisão: encaminhou cópias de parte do expediente a jornalistas do principal diário estadunidense, The New York Times (conhecido como Times). Aos processos, o diário deu o nome popular de Pentagon Papers (Papéis do Pentágono).

Ao publicar os documentos que conseguiram, o Times ganhou uma vitória (o furo de reportagem), acompanhado da derrota (sofreu embargo de uma Corte Federal, que proibiu a continuidade das publicações sobre o caso). Sem a concorrência, surge o jornal local The Washington Post (ou simplesmente Post), que se aproveitou da tese de que o embargo foi direcionado especificamente contra o Times, para entrar na briga. Correu atrás da sua fonte (Ellsberg) e com os famosos documentos vazados, o Post publicou artigos em série, causando raiva e embaraço público ao presidente Richard Nixon, que colocou a poderosa máquina pública dos Estados Unidos da América em ações na Suprema Corte, com o objetivo de obrigar a imprensa a cessar as publicações daqueles dados secretos.

A introdução acima, faz parte da trama narrada em The Post – A Guerra Secreta, que estreia nesta quinta-feira, 25 de janeiro, em circuito nacional. Com direção de Steven Spielberg, a produção conta com as atuações majestosas de Meryl Streep e Tom Hanks.

No filme, Katharine ‘Kat’ Graham (Meryl Streep) é a herdeira do The Washington Post, que se viu obrigada a administrar os negócios da família, em virtude da morte do seu marido. Prestes a lançar seu jornal (ainda um pequeno negócio) na Bolsa de Valores, com o objetivo de conseguir mais investimentos para o seu jornal. Benjamin ‘Ben’ Bradlee (Tom Hanks) é o editor-chefe do Post, ávido por alguma grande notícia que possa fazer com que o jornal alcance um bom patamar, diante de um acirrado mercado jornalístico. Quando The New York Times inicia uma série de matérias denunciando quatro presidentes encobriram e mentiram acerca da atuação do país na Guerra do Vietnã, com base em documentos sigilosos do Pentágono, o presidente Richard Nixon decide processar o jornal com base na Lei de Espionagem, de forma que nada mais seja divulgado. A proibição é concedida por um juiz, o que faz com que Bradlee e sua equipe corra atrás dos documentos. Diante do material, resta a ele convencer Kat e os demais responsáveis pelo Post sobre a importância da publicação de forma a defender a liberdade de imprensa, prevista na Primeira Emenda, como um dos direitos fundamentais da sociedade.

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O roteiro bem desenvolvido por Liz Hannah (Reine Sobre Mim) e Josh Singer (Spotlight: Segredos Revelados) constrói um ambiente tenso, com aquele tipo de trama que prende o espectador do início ao fim. A pesquisa bem feita, mostra os detalhes mais próximo do que aconteceu na história verídica. Mas, colaborar com esse roteiro, não foi uma missão tão difícil para Singer, já que o mesmo se baseou em sua excelente bagagem, vista em Spotlight: Segredos Revelados, outro longa-metragem que aborda o universo do jornalismo, que lhe rendeu o Oscar de Melhor Roteiro. Por se tratar de uma profissão, o jornalismo, seus diálogos apresentam jargões técnicos da área. Mas isso não é um problema, pois não é um blockbuster daqueles que o Spielberg sabe fazer. É um longa para ser apreciado por um determinado público.

Com o bom roteiro em mãos, Steven Spielberg (Munique), entrega uma competente realização (como na maioria das vezes). Criando a já conhecida atmosfera de Thriller vista em produções como Ponte dos Espiões e o já citado Munique. O grande destaque do seu trabalho, está no poderoso time cast que juntou uma excelente Streep e um absurdamente igual, Hanks (quem nunca sonhou com o dia em que esses dois trabalhassem juntos?), nos papeis centrais. Ambos se juntam a Bruce Greenwood (excelente no papel do Secretário de Defesa, Robert McNamara).

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Mas quando parece que o realizador chegou ao seu limite criativo, surge um Nixon de costas para o impressionante quadro de Janusz Kamiński (A Lista de Schindler), no salão oval da Casa Branca, representando o triste legado deixado por Nixon. Aqui, foram adicionados áudios originais com a própria voz do ex-presidente, inclusa na pós-produção, por meio de gravações. Essa edição, só faz a produção ganhar elogios e mais pontos positivos.

Vale lembrar que a parceria Spielberg e Hanks já chega ao quinto filme. Então, não precisa justificar por que esse é mais um projeto de sucesso. O interessante é que, na vida real, Steven foi vizinho do próprio editor, Benjamin C. Bradlee e Tom conheceu a dupla, Bradlee e Graham, pessoalmente.

No final, quando este episódio estiver aparentemente resolvido, o pobre Nixon acha que sua história com Kat, Ben e o Post se encerra por ali. Resta ao espectador um crossover com o clássico Todos os Homens do Presidente, já que Spielberg encerra com a cena em que mostra uma estranha movimentação em um dos andares do Complexo de Watergate (mas aqui, a história é outra).

Se tratando de um dos melhores filmes sobre a profissão jornalísticas (dentre os quais, estão na lista Todos os Homens do Presidente e Spotlight – Segredos Revelados), The Post – A Guerra Secreta mostra a coragem e a declaração de amor do verdadeiro jornalista em busca da sua maior preciosidade: a informação. Nota máxima para esse espetáculo.

Assista ao trailer:

? Niko Tavernise / 20th Century Fox

Texto escrito por Alyson Fonseca. 

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