Juntando cinema e suas particularidades à História e à Política, apresento esta série (3 partes), não somente pra relacionar arte com vida, mas também para expandir a cosmovisão de nós cinéfilos sobre as percepções da História e da realidade cultural da sociedade nos meados dos anos 50 e 60. Foi precisamente nestas décadas que o Cinema Hollywoodiano que conhecemos, iniciou sua caminhada de “invasão cultural” e por que não capitalista, né.
Pois bem, eis a primeira parte.
Hollywood – script de guerra
É de se saber que na metade do séc. XX a Guerra Fria estava em seu auge, dividindo os capitalistas dos socialistas, etc. Mas o interessante dessa parte da História contemporânea é o nosso assunto favorito do site. O cinema como a sétima arte, neste mesmo período, mostrou sua força e elegância em suas produções. É possível dizer que os filmes norte-americanos foram tanto uma arma de guerra para soft power e como um entretenimento midiático de maior rentabilidade para EUA.
Os métodos de guerra foram então fundamentados na propaganda e marketing (TV), e excepcionalmente, nas produções cinematográficas. O que influenciou em uma cultura anticomunista. Os filmes foram, para a Guerra Fria, a principal batalha contra o inimigo comunista dentro mesmo do país. Obviamente, os movimentos e mudanças na sociedade tradicional americana da década de 50, foram consequências do que era visto nos filmes e na tv. Mas além disso, haviam especulações acerca da existência de espiões comunistas e da filiação de cidadãos ao suposto Partido Comunista Americano. Estes alvos alertaram os norte-americanos e se iniciaram tanto as investigações de atividades antiamericanas quanto a famosa “caça às bruxas”.
No livro The American Cinema (1973), de Donald Staples, há uma confirmação sobre infiltração comunista em Hollywood, descoberta pela House Un-American Activities Committee. Em outubro de 1947, audiências foram realizadas sobre o comunismo na Motion Picture Industry, onde dez homens que trabalhavam para a Motion Picture Association of America, foram para a lista negra, não sendo mais empregados em Hollywood. Reconhecidos como os dez de Hollywood.
Segundo Georges Sadoul – célebre historiador de cinema –, o movimento da caça às bruxas teve o senador do estado de Wisconsin, Joseph Raymond McCarthy, como pivô. Entre 1953 e começo de 1954, à frente do Subcomitê de Investigações Permanentes do Senado, McCarthy entregou uma lista de pessoas que estariam envolvidas no Partido Comunista, o que aumentou o medo de espionagem comunista. Em resposta, os norte-americanos iniciaram o movimento da caça que logo chamaria de Macarthismo. Manipulação midiática anticomunista; interrogatórios infundados; delatores pagos a “acharem” os traidores; e a real simpatia de agentes do governo e de artistas ao sentimento comunista. O movimento logo se exacerbou, rompendo a carreira de diretores, atores, roteiristas e ferindo os direitos individuais e a liberdade de expressão destes profissionais. Exemplos como Charles Chaplin e Abraham Lincoln Polonski (roteirista norte-americano). O público logo se comoveu o que culminou no fim do Macarthismo.
À parte destes eventos, os estúdios cinematográficos estadunidenses, seguiram no fim da década de 50 suas atividades e mudaram a metodologia de se fazer filmes produzindo-os com os gêneros drama e ficção científica. O segundo era o que mais chamava atenção e era da categoria tipo B. Os filmes tipo B tinham os custos menores mas chamavam mais atenção por seu apelo aos estereótipos do ” comunista comedor de criancinhas”. A ficção científica apresentava o inimigo como um invasor alienígena, como um deturpador da mente e utilizava cenários surpreendentes e imaginação.
Filmografia em ataque ao inimigo
Destination Moon (1950) onde a batalha política das duas nações da Guerra Fria se dá na lua, também vista em The Right Stuff (1983) com as tentativas de conquistar o espaço que custaria bilhões de dólares, e as vidas de pilotos. The Day the Earth Stood Still (1951) que mostra a chegada de um disco voador ao planeta Terra, representa a necessidade de resolver o conflito de forma racional e pacífica com a ajuda de cientistas, exclusivamente resolver o uso das armas atômicas. The Invasion of the Body Snatchers (1956) a “infiltração comunista” se dá pela aparição de sementes que brotam e produzem corpos humanos. (What??!!)
Os filmes de drama foram feitos dentro do estilo clássico Noir onde as cenas eram escuras, de mistérios e sombras e continham violência, crimes, decadência da moral e a presença marcante das femme fatales. Pickup on South Street (1953) do diretor Samuel Fuller, retrata a perda de informações secretas de estado que estavam na bolsa de uma charmosa mulher e é roubada por um “batedor de carteira”, que vira alvo de espiões comunistas.
EUA já possuía armas nucleares desde o fim da Segunda Guerra. Em 1949, a URSS adquiriu armas nucleares. Os anos seguintes da década de 1950 foram parte do período quando uma destruição massiva mútua poderia acontecer!!! Com um arsenal equivalente dos dois lados do conflito ideológico, a capacidade das armas estavam à frente da política.
O termo MAD – mutual assured destruction (destruição mútua garantida) – expressou a estratégia militar conforme as paridades nucleares já conhecidas, sendo que o lado que se movimentasse primeiro sinalizaria o movimento do segundo. O disparate tamanho deste pacto foi reproduzido na clássica sátira Dr. Fantástico (1964) do gênio Kubrick, por uma linha cômica muito bem seguida.
Citando um trecho do site Obvious, basicamente “o quadro do cinema hollywoodiano na Guerra Fria era esse: o bem contra o mal, os Estados Unidos contra a União Soviética, o capitalismo contra o comunismo, o herói contra o vilão.” bláblá.
Enfim, esta primeira parte foi um breve resumo do que Hollywood passou durante os Anos Dourados. Sem frescura de intelectualismo, dá para analisarmos com os olhos de estudantes sérios e fanáticos por Cinema um pedacinho da sua história.