“Nenhum homem pode assistir duas vezes ao mesmo filme…
pois na segunda vez o filme já não é o mesmo,
nem tão pouco o homem!” – Heráclito de Éfeso
Primeiro Ato:
Um jovem corre desesperado. Tudo a sua volta está desmoronando. Ele está cansado, fatigado, aparentando estar correndo durante toda uma vida.
George, o jovem, já quase desistindo de continuar a correr e fugir, avista, ao longe, uma escadaria em formato de caracol tão alta, que cortava as nuvens e seu fim não podia ser avistado. Essa visão traz um fio de esperança que ele necessitava. Sem querer saber se tudo aquilo era real ou se não passava de uma alucinação, ele usa suas últimas forças para alcançar a escadaria. Ele finalmente a alcança e começa a subir ainda desesperado. Parece não ter fim. Será um pesadelo?! Ele ultrapassa as nuvens e parece avistar o final daquelas escadas.
Segundo ato:
Nada mais a sua volta parece estar desmoronando. Ele estranha. Ele já havia se acostumado em correr eternamente fugindo do ambiente a sua volta se desmoronando. As pessoas ali não corriam, mas simplesmente andavam, sorriam, conversavam, divertiam-se. Aquilo com certeza não era real. Ele pensa em descer as escadas e voltar a correr. Mas lá no fundo ainda havia uma pequena curiosidade em seu ser, inerente a todo ser humano.
– Só uma olhadinha. – ele prometeu a si. Depois ele voltaria a sua corrida de praxe.
Em seu tour por aquele lugar, George vê um grupo de pessoas adentrando uma sala e resolve seguí-las. Abriu a porta, passou por uma cortina, como se fosse um véu separando o impuro do sagrado.
Dentro da sala, estava tudo escuro. As pessoas iam acomodando-se, como em um templo, de forma a conseguirem a melhor visão de uma espécie de janela ou portal de formato retangular na parede oposta a porta de entrada. Trombetas ao redor da sala tocaram anunciando um grande evento. Todos se calaram em respeito imediatamente, assim como todos se levantam quando um juiz adentra o tribunal. Imagens começaram a ser projetadas naquela espécie de portal e sons ecoavam por todo ambiente. George não sabia, mas dizem que era uma entidade tentando se comunicar com os humanos.
Esse contato com a entidade provocava as mais variadas emoções nos seres daquela sala, mas até hoje ninguém sabe explicar o porquê. Uns dizem que já sentiram uma vontade incontrolável de chorar, outros dizem que riram sem parar. Naquele dia em específico, todos na sala ficaram simplesmente em silêncio. Talvez os humanos ainda não estavam prontos para a mensagem que a entidade estava querendo transmitir.
George não sabia o que estava sentindo. Era seu primeiro contato com a entidade, então havia momentos em que ele chorava, outros em que ele ria descontroladamente, mas só decidiu sair mesmo quando sentiu uma dor no estômago, como se alguém tivesse lhe dado um soco bem forte naquela região. Foi só então que procurou uma saída. Ele seguiu um foco de luz que parecia lhe indicar a cortina pela qual havia entrado.
Terceiro ato:
Ele passou pela cortina e estava novamente do lado de fora, mas ainda não estava bem. Algo lhe incomodava. Ele não conseguia para de pensar naquelas imagens e sons, tentando entender tudo aquilo. Como havia prometido a si próprio, desceu as escadas e enquanto descia, tentava decifrar aquela mensagem a qual acabara de ser exposto.
Quando chegou lá em baixo ainda estava pensando e acabou não percebendo que o ambiente estava normal como nunca havia sido. Nada estava desmoronando como outrora. Ele procurou por um banheiro para lavar o rosto e tentar aliviar todas sensações estranhas que ele experimentava. No banheiro, ele abriu a torneira, jogou água no seu rosto, olhou se para o espelho e tomou um susto. Ele, de alguma forma, não era mais o mesmo George. Ele havia mudado. Olhou assustado também para seu em torno e tudo havia mudado. Ele olhou novamente para o espelho, porém dessa vez de mais perto.
Ele sorriu.
fim.