Já aviso, está crítica foi feita por alguém que amou “Os Últimos Jedi” (2017). O texto contém spoilers, então cuidado.
Fui de mente aberta para o último capítulo de uma saga tão apaixonante quanto Star Wars, mas “Star Wars: A Ascensão Skywalker” peca justamente por tentar agradar todos os fãs dessa franquia. Até os mais radicais.
É um filme com coração, isto é sua maior força. Apresenta um forte sentimentalismo e emociona nas horas certas, mas algumas decisões de roteiro e uma tentativa de se afastar do construído no oitavo episódio acabam por sufocar as aspirações dessa conclusão.
“Star Wars: Os Últimos Jedi” brinca com a expectativa dos fãs a todo momento, seja com a reclusão de Luke ou até com o presente fracasso de todas as ações dos protagonistas. É um filme humano, retratando heróis com todas suas falhas.
Já este nono capítulo ignora essa tentativa, apresentando uma trama muito semelhante ao “Retorno do Jedi” e uma conclusão apenas satisfatória. Há momentos excelentes, digo que a execução de certos elementos é excelente, mas o impacto inicial deles é horrível.
Um exemplo: a revelação de que Rey (Daisy Ridley) é neta do Imperador Palpatine é horrível, quebra com o estabelecido no episódio VIII, que definiu a força como algo que surge nas pessoas comuns, nos indivíduos banais. Como Rey, cujos pais são revelados como ninguém.
Mas então, surge a informação dessa familiaridade de Rey com a força. O choque inicial da recepção provoca desgosto, contudo, apoiado por um forte sentimentalismo, sua execução não é tão ruim.
Só que o fim de uma saga tão importante como essa não pode ser definido como “não é tão ruim“. Não mesmo, o filme empolga, mas não o suficiente. Longe disso até, com algumas cenas desnecessárias e uma certa rapidez na trama.
Os detalhes e a própria volta do Imperador parecem ter sido feitos de maneira apressada, construindo uma falta de criatividade clara. Apesar disso, cenas como o embate final entre jedis e siths, com as vozes de tão queridos personagens ecoando na mente de Rey, valem o ingresso.
O trio de heróis (Poe, Rey e Finn) ainda empolga, com uma bela sintonia em cena, realçada pela presença sempre marcante de R2-D2 e C-3PO, sendo que este rouba boas gargalhadas da plateia durante o longa.
Triste é a ausência, mais uma vez, de R2-D2 que perde muito tempo em tela, por conta de outros novos droids. Sinto muita falta do baixinho azul nesta nova trilogia.
O final dos queridos Leia (Carrie Fisher) e Luke (Mark Hamill) é satisfatório, provocando sorrisos até nos mais carrancudos fãs da saga. Os heróis são ainda, o coração da franquia e honrados pelo filme final. Diga-se de passagem, Luke foi muito honrado no filme anterior, com uma cena final poética e tocante na medida certa.
Sem dúvidas, a melhor coisa deste longa e da nova trilogia é Kylo Ren (Adam Driver), ou melhor, Ben Solo. O personagem é excelente em sua dualidade, constituindo um vilão perturbado e ausente de pura maldade.
A atuação de Driver é maravilhosa, dando um final digno ao personagem e uma redenção mais do que merecida. O combate presente em sua ligação com a força e com o passado é muito bem executado, mais uma vez.
Contudo, aquela ideia da força ser cinza e não apenas um eterno combate entre bem e mal, acaba por cair completamente nesse filme. Ignorando-se o estabelecido no episódio VIII, em uma pífia tentativa de agradar à todos.
Faltam coragem e ousadia em “Star Wars: Episódio IX“, algo essencial para um fechamento de saga. Ainda mais para uma deste tamanho e influência.
Várias referências, fan services e uma grande apelação à memória afetiva dos fãs não sustentam um filme com graves problemas de roteiro e resoluções muitos simplistas. Os personagens são ótimos, com destaque para Kylo e Rey, mas seus caminhos pelas mãos dos roteiristas são fracos e indecisos.
Indecisão não deve marcar um final de saga e por mais que o diretor J. J Abrams (“Star Trek“) seja um verdadeiro fã como nós, seu desejo por agradar demais acaba limitando suas próprias escolhas criativas.
Eu senti a emoção de uma batalha final, eu senti a esperança vindo de Lando e suas milhares de naves, eu senti a sensação tão pontuada por Finn acerca da força. Mas só isso não foi suficiente, não era pra ser uma batalha final, era pra ser a batalha final.
Não dá pra simplesmente odiar, porque afinal de contas, ainda é Star Wars. Porém, uma conclusão ok, não é suficiente para uma das melhores histórias já contadas pela humanidade.
Confira o trailer:
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