Baseado em Fatos Reais – A iminência da dúvida

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Baseado no romance de Delphine de Vigan este filme foi a aposta do Festival de Cannes para ser o filme de encerramento da seleção oficial, extracompetição. A história de uma escritora de sucesso (Emmanuelle Seigner) que inicia uma relação amorosa com uma admiradora (Eva Green) e que pouco e pouco, vai literalmente controlar a sua vida com uma crescente violência física e psicológica.

Com direção do célebre Roman Polanski, já conhecido pela criação de inúmeros outros thrillers psicológicos como O Inquilino (1976), Repulsa ao sexo (1965), e o recente, O Escritor Fantasma (2010), seu mais novo filme, Baseado Em Fatos Reais, consegue construir inicialmente uma atmosfera que parece fluir de forma ritmada, mas que acaba se perdendo diante do desenrolar, ora pelas escolhas galgadas em obviedade que são rotineiras diante de inúmeras cenas, ora pela incapacidade do diretor em estruturar de forma eficaz a organização linear e crescente exigida pelo gênero do suspense.

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A proposta de evidenciar a natureza repentina e doentia da relação entre uma notável escritora, interpretada por Emmanuelle Seigner, e sua aparente amiga, vivida pela inconfundível Eva Green, que transita entre o resultado de um processo criativo doloroso e árduo, e a existência concreta de um relacionamento conturbado e abusivo, teria funcionado melhor se a natureza de tal momento fosse explorado com maior profundidade, o que não acontece na obra uma vez que o diretor se abstém de gerar um maior amálgama entre elas, e com isso termina transitando entre o clichê e o quase criativo.

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Ainda assim, a atuação de Emmanuelle Seigner e de Eva Green são inquestionáveis, e o jogo de olhares e de toques que se estabelecem entre ambas em inúmeros momentos são a principal força geradora dessa tensão tão aguardada pelo telespectador. Tais performances servem para apontar a força que habita dentro de uma boa interpretação, mesmo quando o roteiro se mostra quebradiço e a direção não consegue aderir os problemas de modo eficaz.

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O conceito originário do roteiro foi bem pensado, e teria tomado rumos ainda melhores, haja visto que mesmo com as falhas evidenciadas, a introdução dessa temática que correlaciona o processo criativo de um escritor com a presença ambígua de Elle (Eva green), tem um ar de mistério e de atratividade bem contundente. As escolhas das atrizes foram excelentes, a fotografia do filme foi esteticamente bem pensada, ainda que tenha tomado nota de recursos simplórios, como o uso do vermelho para contrastar os picos de agressividade/invasão vividos pelas personas em questão.

O abuso em um relacionamento tão recente, disposto de forma tão repentina na tela, e a incapacidade de desenvolver a dinamicidade evidente nessa relação, ainda que por alguns instantes aparente o surgimento de uma nova balança de poder entre ambas as psiquês, foi o motivo principal do trabalho não ter saído de suas limitações já esperadas e ter partido para um ápice criativo. Que Polanski é um excelente diretor não nos resta dúvidas, sobretudo porque seu histórico já é conhecido por qualquer um que se atreva mergulhar no universo fílmico, contudo, isso não é o suficiente para garanti-lo uma eficácia constante, e em Baseado Em Fatos Reais, o diretor deixa a desejar, ainda mais para aqueles que acompanham o seu trabalho faz tempo, e que têm plena consciência da sua potência cinematográfica.

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